Os riscos de aumentar o pênis através de procedimentos cirúrgicos

O cirurgião vascular Carlos Araújo, de São Paulo, diz que tem atendido em média cinco pacientes por mês com problemas decorrentes de aplicações de PMMA no pênis. Eles chegam com inflamações e deformações. O pênis fica igual a um saco de batatas, diz o médico.

Um profissional liberal paulistano que prefere ser identificado como Sérgio, de 35 anos, é uma das vítimas dessa situação. Infeliz com a grossura de seu pênis, ele descobriu na internet, no ano passado, um médico que prometia aumentá-la. Pagou R$ 3.500 por uma aplicação de PMMA (polimetilmetacrilato, líquido usado em preenchimentos estéticos). Logo começou a sentir dores, ardência e dificuldade nas relações sexuais. Foi diagnosticado com uma séria inflamação, que pode acabar em cirurgia. Eu me arrependo muito. Estou com problemas psicológicos e conjugais, afirma.


Do ponto de vista legal, esse tipo de procedimento não é irregular. O PMMA foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária como material para aumentar a espessura de pênis e de lábios vaginais. Apesar disso, a comunidade médica não recomenda essa utilização. O PMMA é mais indicado em cirurgias reparadoras, normalmente no rosto. Para engrossar o pênis está fora de questão, diz o cirurgião José Tariki, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. O Conselho Federal de Medicina concorda. A técnica não é proibida, mas não aconselhamos. Carece de comprovação científica, diz Antônio Gonçalves Pinheiro, da Câmara Técnica de Cirurgia Plástica. O aumento da espessura tampouco é recomendado pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). É uma técnica experimental. Já vi muitos pênis deformados, diz Eduardo Bertero, chefe do Departamento de Andrologia da SBU.

Bertero diz que a maioria dos homens que procuram o procedimento são jovens com pênis normais. Depois do preenchimento, afirma, o pênis pode ficar disforme, com consistência meio gelatinosa e absurdamente pesado. Por que os homens embarcam nessa? O pênis é um instrumento de poder. Os que têm tamanho acima da média divulgam, e os que têm tamanhos normais se acham anormais, diz o urologista Celso Marzano. Com o PMMA, os homens costumam ganhar entre 5 e 8 centímetros no perímetro do pênis. É um absurdo. Há pacientes que nem conseguem mais penetrar a própria mulher, afirma Carlos Araújo.

Apesar dos argumentos em contrário, há vários médicos que praticam o engrossamento de pênis – embora não gostem de falar sobre isso. Apenas o cirurgião Bayard Fischer Santos, de Porto Alegre, concordou em dar entrevista. Ele é o personagem central de um site na internet com o nome de Vítimas do Dr. Bayard e outros operadores de Pênis. Isso tudo é balela. A técnica é das mais seguras que existem. Já fiz em mais de 5 mil pacientes desde 1988, afirma. Os homens que chegam ao consultório dele querem aumentar, em média, de 4 a 5 centímetros o perímetro do pênis. Bayard Santos diz que pênis com menos de 13 centímetros de perímetro não preenche direito a vagina. Mas, mesmo nos homens que atingem essa medida, ele faz o procedimento se o paciente desejar. Se chegar a 14 ou 14,5 centímetros de perímetro, melhora a qualidade do ato, ele afirma. Diz também que geralmente a mulher se posiciona contra, mas depois pede para o homem colocar mais. Sobre a quantidade de material injetada, ela é experimental. Injeto o necessário para chegar à medida que a pessoa quer, afirma.

Bayard diz que cada 10 mililitros aumentam de 0,6 a 0,8 centímetro o perímetro. Então, conforme o que o paciente pede, ele vai injetando de 10 em 10 mililitros. Geralmente são duas aplicações. Bayard diz usar mais de uma substância, com diferentes resultados. O PMMA é para os que querem nódulos no pênis, para um sexo diferenciado, diz ele. Nos Estados Unidos, a técnica é condenada pela Associação Americana de Urologia como insegura e ineficaz. O neurourologista israelense Yoram Vardi, que fez duas revisões da literatura médica sobre engrossamento de pênis, chegou à mesma conclusão: Não há nenhuma indicação para esse tipo de procedimento na literatura médica.

Indiferente à polêmica, o representante comercial paulistano Alexandre, de 32 anos, está satisfeito com as duas aplicações que fez em 2008 e que lhe custaram R$ 7 mil. Eu faria tudo de novo, diz ele. Alexandre procurou o médico porque achava que havia algo de errado com seu pênis. Bayard Santos o examinou, disse que suas medidas eram normais, mas que poderiam melhorar. Alexandre topou, fez o preenchimento e diz estar feliz. É uma roleta-russa, afirma o cirurgião Carlos Araújo. Vale a pena desafiar a sorte e pôr em risco uma das partes mais sensíveis da anatomia masculina? Isso depende de cada um. Mas a psicoterapeuta Fernanda Robert desaconselha. Ela diz que aumentar ou engrossar o pênis não muda o comportamento sexual dos homens: Se a pessoa está infeliz com sua sexualidade, isso não vai mudar.

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