Ao final do segundo dia de competições, depois de horas de provas, levei os meus amigos dos Estados Unidos e Espanha, junto com outros tantos moradores daqui, para duas festas. Fizemos um zig-zag na cidade e ao fim da noite, todos pediam um lugar para lanchar. Os cariocas, que estavam no grupo, escolheram o Néctar, que fica na esquina das ruas Farme de Amoedo e Visconde Pirajá, em Ipanema – pedaço da cidade conhecido por sua tolerância a todas as tribos. Ao chegar lá, o ambiente era o mais tranquilo e cada um fez o seu pedido. Algumas risadas, gente conversando, tudo parecia transcorrer com normalidade até que, começamos a escutar, ao longe, piadas envolvendo o meu nome…
- Chateaubriand, seu viado, tem que morrer!! Quando sair dai vai apanhar muito. – dizia uma voz que vinha de uma mesa próxima a minha ocupada por quatro homens. Achei que fosse brincadeira, mas não era. Aos berros as ameaças e xingamentos continuavam numa sequência ininterrupta (prefiro não transcrever essas colocações, já que as mesmas fazem parte de um repertório de muito baixo nível). O motivo dos insultos eram simplesmente destinados a minha orientação sexual. Meus agressores queriam uma resposta para que pudessem me atacar, talvez fisicamente. Foi aí que a ficha caiu e vi que estava sendo agredido verbalmente, numa manifestação homofóbica. Quase inacreditável ver que isso ainda acontece numa cidade cosmopolita que recentemente recebeu o título de destino gay friendly.
Na mesma hora me perguntei: o que fazer agora? Ao que tudo indicava, o grupo queria uma resposta para que de fato acontecesse um confronto. Foi aí que com serenidade escuto o meu companheiro André falar: “Vamos embora com calma e sair dessa situação”. A mesa com os meus seis amigos estava engasgada e o lanche tinha sido esquecido e deixado de lado. Todos queriam, de fato, me tirar daquela situação constrangedora e perigosa. Nessas horas é que vemos o grande valor dos verdadeiros amigos. Com certeza, uma família.
Para sair do estabelecimento tudo teve que ser feito de forma rápida. Arnaldo, um dos meus melhores amigos, parou um carro na porta de onde eu estava, para que eu pudesse sair em segurança. Claro, que ao entrar, no caminho, fiz algumas ligações e após o susto comecei a tomar todas as medidas legais que não pude realizar enquanto estava sendo coagido.
Confesso que já vivi muitas situações desagradáveis de bulling e preconceito ao longo da minha história. Porém, como essa, nunca! Mas, como ver o lado positivo é a melhor forma de encarar e responder pessoas preconceituosas, fica a seguinte lição: Amigos são a nossa grande família e ter recebido tanto carinho, como recebi nessas últimas horas, apagaram de vez toda a tristeza que estava no meu coração!
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