Paula Burlamaqui lida muito bem com os altos e baixos da carreira de atriz. Na tevê desde 1987, ano em que ganhou o concurso Garota do Fantástico, a intérprete da Dolores de Avenida Brasil, da Globo, acumulou muitas personagens pequenas e sensuais em tramas como Barriga de Aluguel e Pedra Sobre Pedra.
"Atuar não deve ser um sacrifício. Sempre vejo atores reclamando de personagens que não aconteceram. Já passei muito por essa situação e sempre busquei descobrir o prazer de estar no estúdio", filosofa.
Segundo Paula, a grande virada de sua trajetória foi em América, novela de Glória Perez exibida em 2005, onde viveu a sofrida Islene.
"Minhas personagens eram bem superficiais e tinham poucos conflitos. A Glória me deu a chance de mostrar que eu poderia ir além. A partir daí, as pessoas tiveram mais confiança na minha atuação", conta a atriz de 45 anos.
No ar em Avenida Brasil, a atriz, natural de Niterói, região do Grande Rio, se diz instigada pelas ambiguidades da recatada Dolores. Ex-mulher de Diógenes, de Otávio Augusto, e mãe de Roni, de Daniel Rocha, ela abandonou a família e trabalhou durante anos como atriz pornô sob o nome artístico de Soninha Catatau.
"Como ela virou evangélica, não quer nem saber sobre sua vida de pecados. Mas não dá para fugir, o passado sempre vem à tona", diverte-se.
OF– Quando você entrou em Avenida Brasil, a trama já estava com quase três meses no ar. Você sentiu alguma dificuldade?
Paula Burlamaqui - Me sentia mais crua do que o resto do elenco. Mas estava segura e feliz com a personagem. Achei até que não fosse mais fazer a novela. Ano passado, o João Emanuel (Carneiro, autor da trama) me ligou dizendo que queria trabalhar comigo em Avenida Brasil. Fiz teste para alguns personagens e aguardei o chamado da produção. Mas fiquei aflita, pois a novela foi avançando, todos os atores desenvolveram seus personagens e nada de me ligarem (risos). Até que a Amora (Mautner, diretora-geral) me contou que minha personagem iria entrar para mexer com o núcleo do Diógenes. Dolores é uma ex-atriz pornô, que arrependida de sua vida, tornou-se evangélica.
OF – Quais foram suas inspirações para criar uma típica mulher evangélica?
PB – Frequentei cultos evangélicos e conversei com muitas mulheres para ter referência de visual, gestos e gírias. Mas a parte mais importante da composição começou dentro de casa. Minha empregada, que trabalha há 25 anos comigo, é evangélica fervorosa. Conversei muito com ela e percebi que a maioria dos evangélicos mais intensos têm outro dialeto, falam outra língua. Isso mudou até o texto da personagem.
OF - Como assim?
PB – Estudei muitas coisas do texto do João Emanuel com a minha empregada. Ela dizia o que estava coerente com a realidade e eu conversava com o autor. Ele, generosamente, me disse para seguir nessa linha mais realista. Daí surgiu na novela expressões como "tá amarrado em nome de Jesus!" e "Misericórdia, Senhor!". Além de chamar as pessoas de "Abençoadas" (risos).
OF - No passado, sua personagem posou nua para uma revista masculina. Em uma brincadeira com a realidade, a produção da novela queria usar as fotos que você fez para a Playboy, em 1996, como se fossem da Soninha Catatau. No entanto, a utilização das imagens não foi liberada e você teve de fazer outro ensaio. O que achou do resultado?
PB – Quando a produção me ligou falando sobre a negativa da revista eu levei um susto. Pensei em pedir ao João para cortar essa cena, até que a Amora teve a ideia de fazer novas fotos. Na hora, pensei: ela está maluca, eu não tenho mais 20 anos! (risos). Ficou aquela discussão, até que ela me persuadiu a fazer. Foi muito legal reviver esse momento. Este novo ensaio foi feito especialmente para a equipe de direção de arte da novela produzir essa revista fictícia. Não teve fotos nuas, apenas sensuais e inspiradas nas poses que fiz para a Playboy nos anos 90.
OF– Nos bastidores da tevê, juventude e beleza estão na ordem do dia. A passagem do tempo a assusta de alguma forma?
PB – Vivo da minha imagem e envelhecer é muito cruel. Mas engraçado, a partir dos meus 37 anos, minhas personagens deram um salto. Quando fiz a Islene de "América", senti que diretores e autores começaram a observar melhor o meu trabalho. Neste ponto, o amadurecimento é fantástico. Mas também sua pele não é mais a mesma, você fica mais inchada, cansada. Acho que a velhice traz mais coisas ruins do que boas. O ideal seria ter o corpinho de 20 e a mentalidade de 40 anos. Se fosse para escolher, preferiria ficar 'retardadinha', mas linda (risos).
0 Comentários
Sua opinião é importante