Se hoje, no Ocidente debate-se a despatologização das travestis,
transgêneros e transexuais, isto é, tirar o caráter de doença ainda
ligada a esse segmento, no Brasil, podemos regredir algumas décadas e
voltar a acreditar que existe uma “cura gay”.
O
projeto de autoria do deputado federal João Campos (PSDB-GO), líder da
Frente Parlamentar Evangélica, pretende sustar os efeitos da resolução
nº 001 de 1999, do Conselho Federal de Psicologia que proíbe tratarem a
homossexualidade como transtorno como informa a Folha.
Contra
essa decisão, o projeto afirma que o Conselho nega “o direito da pessoa
de receber orientação profissional”. Mas a sensação é que
fundamentalistas querem passar por cima de anos de luta feitas pelos
homossexuais (basta lembrar do Grupo Gay da Bahia e seu empenho para que
o extinto INAMPS tirasse a homossexualidade de sua lista de doenças)
para que a sociedade entenda que a questão da orientação sexual não é
doença nem merece cura, e sim tolerância.
Até porque, se
honestamente, o grande contingente de gays e lésbicas percebesse que
pudesse ter “cura” e assim se livrar da exclusão, do preconceito e de um
possível assassinato, é claro que todos se submeteriam a um possível
tratamento.
Desde o século 19, muitos cientistas tiraram a
homossexualidade da esfera do pecado e a colocaram no da doença. Desde
então, foram feitos testes em gays como cobaias humanas, tanto no Brasil
de Vargas como na Alemanha nazista, sem chegar a nenhum resultado de
fato que indicasse uma cura.
Em 1973, a Associação Americana de
Psiquiatria reconheceu que a homossexualidade não era doença. Na mesma
época, o médico americano George Weinberg escreveu no livro “A Sociedade
e o Homossexual Sadio”: “Ser gay é ser livre de vergonha, culpa e
remorso de ser homossexual. [...] Ser gay é vislumbrar sua sexualidade
como o heterossexual sadio enxerga a dele”.
A Assembleia-geral da
Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da sua
lista de doenças mentais no dia 17 de maio de 1990. Então, se não é
doença não tem cura. E para quem interessa novamente patologizar a
homossexualidade? E porque?
Diante tanto rancor em relação aos
homossexuais, o humor tem sido uma das saídas. Essa eu li em algum fórum
pelos direitos gays da internet: “Se a homossexualidade é uma doença,
então deveríamos avisar diariamente no trabalho: ‘Oi. Não posso
trabalhar hoje, ainda estou gay’”.
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