Por que a Nike pode pagar mais que R$ 30 mi ao Corinthians

A dias da estreia no Mundial de Clubes da Fifa, Corinthians e Nike anunciaram a renovação de seu contrato, que terminaria no fim de 2014, até 2022. Mais dez anos daquela que é a melhor parceria no Brasil entre um time de futebol e uma fabricante de materiais esportivos. Com um contrato que tem diferenças sutis, porém determinantes, que o público não costuma ter muito acesso.
O valor do acordo foi especulado em R$ 30 milhões, e o presidente do time, Mário Gobbi, confirmou que ele está nessa faixa. Mas a conta é mais complexa e envolve uma série de variáveis que devem fazer desse número superior.
No contrato entre Corinthians e Nike, o clube ganha dinheiro de quatro formas diferentes. A primeira delas é o que o mercado chama de “patrocínio” e se refere a uma verba anual que é paga em dinheiro. Na proposta orçamentária publicada no site oficial do clube, constam R$ 22 milhões.
A segunda é a de licenciamentos. No caso em questão, a Nike vende uma certa quantidade de produtos do Corinthians, entre todas as peças que compõem o uniforme, e paga royalties ao clube paulista com base nas vendas.
Neste ponto, a parceria entre Nike e Corinthians se diferencia das demais. A prática mais comum no mercado brasileiro é fixar uma garantia mínima. Digamos, hipoteticamente, que fossem R$ 8 milhões. Caso a fabricante venda menos peças do que espera, ela irá pagar essa quantia, não menos. Mas, se vender mais, paga royalties excedentes a esse valor, porém mais baixos.
Os corintianos não têm uma garantia mínima. Na negociação, preferiram pedir royalties mais altos em vez de uma garantia. Normalmente, as fornecedoras pagam royalties de cerca de 4% sobre seu faturamento bruto, antes de terem sido descontados os impostos. No caso do Corinthians, a Nike paga mais de 10% de royalties sobre o seu faturamento líquido, depois de descontados os impostos, o que faz o valor subir, em troca de haver uma garantia.
Este é o detalhe que torna muito menos preciso qualquer valor divulgado na mídia até o momento. O patrocínio, R$ 22 milhões, é certeiro, mas o valor total do contrato pode subir muito mais caso as vendas da Nike também cresçam. Se o Corinthians vence o Mundial daqui a alguns dias, por exemplo, a previsão é que o contrato supere muito facilmente os R$ 30 milhões.
A terceira maneira de ganhar dinheiro do clube é com peças. Fornecedora de materiais esportivos do Corinthians, a Nike se compromete a produzir e mandar para o clube um número pré-determinado de uniformes.
A quarta, outro diferencial da parceria Nike e Corinthians, é uma verba de marketing considerável para que sejam feitas campanhas publicitárias.
Faz alguns dias que a Nike instalou um outdoor em Londres, a apenas um quilômetro do estádio do Chelsea, Stamford Bridge, provável grande rival do Corinthians no Mundial. “The Almighty. Aqui é Corinthians”, dizia o cartaz. Algo como “Todo Poderoso”. Esta ação foi paga com esta verba. E toda vez que a empresa fizer algum anúncio, é com esta verba. Lembra da “carta” que ela escreveu aos torcedores rivais antes da final da Libertadores? Pois é.
Ainda há outros detalhes que fazem do contrato entre Nike e Corinthians mais rentável para o clube do que o comum. A Adidas, em sua proposta para tirar a Olympikus do Flamengo no ano que vem, pretende assumir toda a produção de linhas casuais e proíbe que o clube carioca tenha vestuário “sem marca” feito por algum terceirizado. A Nike, não. O Corinthians pode criar linhas casuais com outros parceiros, vendê-las e ganhar mais dinheiro com licenciamentos.
E ainda, na renovação, ficou acertado que a Nike irá pagar correção monetária anual e que o valor total será pago em dólares, algo que blinda o Corinthians às prováveis mudanças na cotação do real nos próximos dez anos.
Por isso, tenha cuidado ao comparar contratos de fornecimento de material esportivo. Eles “escondem” muitas peculiaridades.

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