Um Amor e Duas Realidades – Capítulo 3

“O beijo entre Alex e Afrodite é bem demorado, bem lento, pois só assim eles podem sentir o gosto do prazer que emana nos seus íntimos… Alex, assim como todo homem que se preze, ao transbordar-se de prazer, jorra a maior satisfação que já tivera em toda a sua vida: Finalmente está beijando uma menina por amor, e não só por pura excitação. Afrodite, assim como toda menina romântica, sente-se preenchida de afeição e torna aquele beijo, a ternura mais bela que estava tão acostumada a ler nas histórias de princesa que adorava na sua infância. Só que agora ela cresceu e ele também, a inocência de ambos adormeceu e então nasceu o amor, a paixão… e a lascívia”.
(Afrodite afasta-se do beijo e os dois se olham ofegantes, sem dizerem nenhuma palavra sequer; Ao ouvir a buzina do carro, Afrodite sai correndo, deixando ali plantado o dono do seu primeiro beijo; Afrodite entra no carro, balançada, e pede para que Adamastor a leve para casa, o mais rápido possível)
ADAMASTOR
Aconteceu alguma coisa, Afrodite?
AFRODITE
Não, por que a pergunta?
ADAMASTOR
É que você está estranha… E quem era aquele rapaz?
AFRODITE
Você está muito curioso, Adamastor… E por que demorou tanto para me buscar?
(Adamastor fica nervoso e logo pensa em uma desculpa para contar)
ADAMASTOR
O motor pifou… Eu tive que levar o carro no mecânico antes.
AFRODITE
Ah… Agora pisa nesse acelerador que eu estou doida pra chegar em casa e descansar.
ADAMASTOR
Sim, senhorita Afrodite!
(Afrodite ajeita-se no banco traseiro e pensa no beijo)
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Sentado no meio-fio, Alex também pensa no beijo que deu em sua deusa do amor…
TÂNIA
Alex, a gente estava te esperando maior tempão lá na frente do portão… O que você está fazendo aqui sentado?
(Tânia vem falando, seguida de seus irmãos e primo; Alex se levanta rapidamente)
ALEX
Nada, só…
TÂNIA
Vamos logo! Hoje tem baile charme, né Alex?
(Alex confirma com a cabeça)
TINA
Vou contar pra mamãe que você vai pro baile, Tânia. Eu vou contar!
TÂNIA
E que disse que eu vou AO baile, hein? Eu vou é estudar com a Solange, ensinar algumas coisas que aprendi pra ela.
TINA
Sei!… E seu nariz está crescendo igual ao do Pinóquio nesse momento mesmo.
(Disfarçadamente, Tânia passa a mão em seu nariz para conferir se era verdade) 
TÂNIA
Deixe de criancice e vamos logo. Vamos rápido que hoje eu estou com pressa.
(Tânia vai à frente e todos a seguem) 
 TÂNIA
Tina e Tico, hoje vocês vão voltar sozinhos pra casa.
TICO
Por quê?
TÂNIA
Porque eu vou dormir na casa da tia Das Dores.
TICO
Ahhh…
(Tico se entristece por ter que se desligar da irmã, pois era muito colado a ela desde que nasceu)
TÂNIA
Não fica triste, irmãozinho… Amanhã eu volto.
TINA
Tânia, a gente não pode voltar sozinho pra casa, é muito longe… Somos crianças, esqueceu?
TÂNIA
Ué, você não queria ser grande? Então?… Já sabe pegar ônibus, né?
(Tina concorda com a cabeça, com um ar de deboche)
TÂNIA
Ótimo!… Tome esses trocados e vão direto pra casa, não parem pelo caminho e nem conversem com estranhos… Entenderam?
(Tânia joga umas moedas na mão de Tina, que emburra a cara, não querendo olhar para a irmã mais velha)
TÂNIA
Vamos, Alex… Fábio, você vem com a gente?
FÁBIO
Vou.
TÂNIA
Então vamos logo.
(Tânia, Alex e Fábio saem)
TINA
Ah, mas eu vou contar tudo pra mamãe… A Tânia me paga! Me paga!
(Tina fica com raiva da irmã e daquela situação; Tico se encolhe todo e pega a mão de Tina, apertando-a forte)
TICO
Tô com medo, Tina.
TINA
Ih, Tico, para de ser maria-mole.
(Tina tenta ser madura, mas no fundo, mais bem lá no fundo mesmo, também é uma criança indefesa que está morrendo de medo, assim como o irmão mais novo; A noite cai de vez e os dois, naquele ponto de ônibus vazio, clamam em seus coraçõezinhos para que a condução chegue logo, mas pelo visto, demorará muito, mais muito tempo)
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“Zona Sul do Rio de Janeiro; Mansão dos Smith; Quarto de Afrodite”…
O quarto de Afrodite é tão grande, mais tão grande, que cabe ali dentro um reino todo feito de sonhos, sonhos estes que Afrodite parece estar vivendo nesse momento… Ela chega, deixa os livros de lado, mal tira os sapatos e sem música alguma, começa a bailar, suavemente, que parece flutuar. A lembrança do seu primeiro beijo surge ao seu redor como um lindo flashback que ela não quer que se acabe nunca mais. Escondida, Marieta, sua mãe, observa-a, admirando seus passos de ballet que estão mais do que primorosos.
MARIETA
Está feliz, minha filha?
(Marieta entra perguntando, constrangendo Afrodite que rapidamente para de dançar)
AFRODITE
A senhora estava aí, mamãe?
MARIETA
Por que parou de dançar? Estava tão bonito… Belos “cambrets”, filhinha. Não acha que deveria voltar com as aulas de ballet não?
AFRODITE
Ah não, mamãe… Ser bailarina não é o que eu quero.
(Afrodite senta-se na cama e tira suas meias, jogando-as pelo chão; Marieta se aproxima)
MARIETA
Mas modelo tem chances, né?
AFRODITE
Fora de cogitação, mamãe. Eu quero mesmo fazer “letras” e ser professora… Ou escritora.
MARIETA
Ah, minha filha, professora não, isso é brega demais, muito démodé… Meu sonho é que você desfile, completando-me, já que tive que largar a carreira depois que engravidei.
AFRODITE
A senhora se arrepende de ter me tido?
MARIETA
Claro que não, minha filha, de forma alguma…
(Marieta fala, sentando-se ao lado de Afrodite e segurando as suas mãos)
MARIETA
[...] Você é o meu maior presente… É que eu só quero o melhor pra você.
(Afrodite sorri)
MARIETA
Mas você ainda não me respondeu… Está feliz por quê?
AFRODITE
Por nada, mamãe. Nem estou feliz, oras… Só estou… Normal.
MARIETA
Hum, sinto cheirinho de mentirinha no ar… Seus olhos estão com um brilho diferente… Está apaixonada, Afrodite?
(Afrodite suspira e não responde, lançando um leve suspense)
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Em seu quarto e de seus irmãos, Alex está deitado na sua cama velha coberta por um lençol desgastado que cheira a mofo, assim como toda a casa, devido às inúmeras infiltrações que atacam sempre que uma chuvinha cai… Calado e pensativo, Alex, assim como a sua deusa, também pensa naquele beijo. Luís entra sorrateiro e vê o irmão num estado que nunca tinha presenciado em toda a sua vida… Alex se encontra sorrindo para o nada, com os olhos cintilantes.
LUÍS
Você está bem, Alex?
(Alex não ouve nenhuma palavra que seu irmão acaba de falar, somente sonha, lembrando-se do bendito beijo)
LUÍS
Alex?
(E nada dele ouvir, só pensava naquela cena de amor que martelava na sua cabeça; Luís então tem uma ideia e todo sacana e maroto, bate forte a porta, que se fecha num estrondaço, despertando rapidamente o apaixonado que outrora sonhava)
ALEX
Tá maluco, cara? Quer me matar de susto?
(Luís gargalha da “cara de tacho” do irmão)
LUÍS
Você aí, “mermão”, estava boiando na maionese… Tá apaixonado, cara?
Alex não responde, mas um espontâneo sorriso surge em seus lábios, então Luís saca que sim… Seu irmão caçula certamente está apaixonado.
(Luís se enche de orgulho do irmão e como consequência da “contentice”, abraça-o forte, levantando-o do chão, como se ergue um troféu; Os dois riem contentes, com a felicidade de Alex)
LUÍS
E quem é ela?
ALEX
Uma princesa, meu irmão… Uma linda princesa.
(Alex torna a sonhar com Afrodite)
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Voltando ao quarto de Afrodite…
(Afrodite se levanta, querendo contornar a situação)
AFRODITE
Que apaixonada o quê, mamãe?… Que ideia!
(Marieta também se levanta e senta-se à penteadeira, aproveitando para retocar seu pó-de-arroz)
MARIETA
Apaixonada sim, Afrodite, eu conheço os sintomas… Me conte, filha… Você está apaixonada pelo Frederick, não é mesmo?
(Afrodite se espanta com tamanha… “Absurdice”, em sua concepção)
AFRODITE
Quê?!
MARIETA
Eu sabia que isso ia acontecer mais dia ou menos dias… Eu estou tão feliz por vocês! Formam um belíssimo casal vocês dois, umas gracinhas! 
AFRODITE
Mamãe, eu não estou apaixonada pelo Frederick coisa nenhuma. Só o vejo como um amigo… Só como amigo.
(Marieta se levanta e se põe atrás de Afrodite, apoiando suas mãos nos ombros dela)
MARIETA
Pode contar para mim, filha.
(Afrodite se afasta e vai para perto da janela, vê a lua que está tão cheia e tão linda, por sinal) 
AFRODITE
Não gosto, mamãe. Já disse!
MARIETA
Então por que você o convidou para ser seu príncipe na sua festa de debutante? Hein?
AFRODITE
Porque… Porque…
(Afrodite se vira, olhando para Marieta)
AFRODITE
Não sei, mamãe… A senhora me pressionou tanto para convidá-lo, que eu acabei concordando…
MARIETA
Não precisa se envergonhar por estar apaixonada, filhinha… Você já está na idade, já é uma mocinha.
(Marieta abraça Afrodite)
MARIETA
Eu sou de total acordo com o seu romance com o Frederick… Já o seu pai pode encrencar no começo, mas ele também vai gostar, eu tenho certeza… Está bem?
Afrodite se entristece por não contar à mãe que havia beijado um rapaz ao qual mal conhecia… Ainda está confusa, pois não é experiente o suficiente nesses quesitos do coração, portanto, sente-se acuada para revelar pra Marieta, que se apaixonara por um alguém que nem o nome sabe, o seu príncipe quase que desconhecido.
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Como Alex nunca havia ficado assim por menina nenhuma, imediatamente, Luís ficou curioso para saber quem era a “arrebatadora” do coração do irmão.
LUÍS
Quem é a milagrosa que te fez ficar assim, Alex?
(Quando Alex está pronto para falar, Solange e Tânia entram alvoroçadas) 
SOLANGE
Meninos, fora!
ALEX
E por quê? O quarto também é nosso.
LUÍS
É mesmo!
TÂNIA
É que a gente quer se arrumar pro baile… Vocês não vão?
ALEX
Claro que eu vou… Hoje quero é curtir!
(Alex sorri, esbanjando felicidade)
LUÍS
Eu não. Hoje o dia na carpintaria foi puxado… Estou um trapo!
(Luís exclama, deitando-se na cama para descansar)
TÂNIA
Eu só sei que eu vou… Esse baile de hoje promete.
SOLANGE (curiosa)
Por que, hein?
(Tânia não responde, mas um sorrisinho deixa escapar; Todos captam a mensagem e a caçoam; Juntos, todos riem em tom de brincadeira)
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Enquanto isso, na sala…
(Maria das Dores está de frente pra Maria dos Prazeres, que havia ido buscar seu filho, o Fábio, que foi pra lá depois da escola, juntamente com os primos)
MARIA DAS DORES
Ele só não quis jantar, Prazeres.
FÁBIO
Claro, era macarrão com salsicha… Eca!
(Resmunga Fábio, em sua cabeça, já que sente nojo da casa da tia)
MARIA DOS PRAZERES
O Fábio é assim mesmo, difícil pra comer… Só come coisa boa.
(Maria das Dores se constrange com a frase da irmã, que nada lhe agrada)
MARIA DOS PRAZERES
Ah!… Hoje eu encontrei o Bené.
MARIA DAS DORES
Da Graça?
MARIA DAS DORES
É! Nós tomamos até sorvete juntos na praia… Foi muito bom… Que sorvete gostoso!
(Maria dos Prazeres fala com um tom de malícia na voz; Maria das Dores percebe, mas prefere não acreditar que a irmã esteja de olho no cunhado)
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A essa altura, Maria das Graças já está aflita com a demora do marido… Tina e Tico já estão cansados de chegar e acabam por comer o resto do bolo que Graça guardou para o marido.
MARIA DAS GRAÇAS
Ei, esse bolo era pro pai de vocês, crianças!
TICO
Agora já era.
(Tico e Tânia completam-se por se lambuzarem com calda de chocolate)
MARIA DAS GRAÇAS
Deus, onde está esse homem que não chega?
(Preocupada, Maria das Graças anda de um lado para o outro; Bené entra em casa, triste, e Maria das Graças vai logo o abraçando)
MARIA DAS GRAÇAS
Por que você demorou, meu amor? Onde você estava?
BENÉ
Trabalhando.
(Maria das Graças se alivia)
MARIA DAS GRAÇAS
Bem… Eu tinha feito um bolinho pra você, mas as crianças acabaram comendo tudo.
(Tina e Tico, sacanas do jeito que são, acenam para o pai, fazendo carinhas de anjos)
BENÉ
Não tem problema… Vou dormir.
MARIA DAS GRAÇAS
Já?!
BENÉ
Estou cansado, fiz hora extra…
(Bené da uma bitoca em Maria das Graças e beija as testas das crianças)
BENÉ
Boa noite!
TINA E TICO
Boa noite, pai!
(Bené vai para o quarto e Maria das Graças fica preocupada com o marido)
TINA
Ah! Antes que eu me esqueça, mãe… A Tânia deixou a gente vir sozinhos pra casa e disse que ia pro baile hoje.
MARIA DAS GRAÇAS
Ela não é nem maluca de ir pro baile. Eu quebro a perna dela se ela for.
(Tina ri, fantasiando a cena em sua mente)
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Na quadra da Escola de Samba “Acadêmicos do Morro da Paz”, acontece o baile charme mais comentado de toda a cidade…
(Tânia, Solange e Rogéria, uma prima delas, chegam juntas… Já Alex, todo destacado, prefere chegar sozinho para não queimar seu filme, pois suas primas têm a fama de “seguranças do baile”, pois só vão para rir das pessoas enquanto elas dançam, ao invés de aproveitarem o ritmo da dança que era tão envolvente)
ROGÉRIA
Olha aquela cocotinha ali… Que horror! Parece mais uma gansa dançando.
(Tânia, Solange e Rogéria caem na gargalhada; Antônio, mais conhecido como Quinho, avista Tânia e se aproxima dela)
QUINHO
Vamos dançar, Tânia?
(Tânia não consegue responder e Rogéria sacode seu braço para que ela aceite)
QUINHO
Vamos?
(Quinho estende a mão para Tânia, que sorri abobada)
ROGÉRIA
Aceita logo, prima!
(Rogéria cochicha no ouvido de Tânia, que com coragem, dá a mão para Quinho, que sorri olhando nos olhos dela)
SOLANGE (surpresa)
Você vai dançar, prima?
(Tânia concorda com a cabeça e Solange parece não acreditar; Quinho e Tânia vão para o meio do salão, o DJ põe um disco romântico, eles dançam de rostos colados e logo se beijam; Solange e Rogéria comemoram de longe)
Na outra parte do salão, ao ouvir a música romântica que rola, Alex não consegue parar de tirar Afrodite da cabeça e nem repara que a sua paquera oficial, a Tati, está diante de ti.
TATI
Virou estátua?
ALEX
Oi, Tati, nem te vi aí.
TATI
Estou bonita?
(Tati dá uma rodadinha e Alex aprecia)
ALEX
Está um broto!
(Tati sorri, convencida)
TATI
Vem, vamos dançar!
(Tati puxa Alex para o meio do salão)
ALEX
Desculpa, Tati, mas eu não quero dançar… Desculpa.
(Alex sai do salão, correndo, e deixa Tati ali sozinha)
TATI
O que houve com ele?… Ele nunca rejeitou dançar comigo, até ficava me perturbando…
(Tati mira um bandidinho de meia bola, sem muito “destaque”)
TATI
Ele é que vai perder…
(Tati corre e logo se atira nos braços do bandidinho)
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Alex corre até o pico do morro, aonde o céu parece encostar-se à cabeça de quem ali ia, de tão alto que é… Alex senta-se na beira e admira a lua que está cheia, tão encantadora e aquela cena, adivinhem… Já está novamente a lembrar-se. Nesse momento, Alex pensa “essa é a mina dos meus sonhos”. O amor já é tão grande, mais tão grande que, mesmo assim, cresce cada vez mais e com força total.
ALEX
Como pode… Um namorador nato como eu, que arrebenta a boca do balão com qualquer mina desse morro, me apaixonar por uma que mal conheço? Será momento, ou destino?… Eis a questão!
“Alex reflete sozinho, olhando a bela lua que parece transparecer todo seu amor que já sente por Afrodite”
(A imagem se congela num tom preto-e-branco)
Continua…
NO CAPÍTULO DE AMANHÃ: Quinho faz uma proposta indecente para Tânia. Maria dos Prazeres joga indiretas cínicas para a irmã, Maria das Graças… E finalmente, Alex pede Afrodite em namoro. Vocês não vão perder, né?

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