Um Amor e Duas Realidades – Capítulo 4


“Da alta sacada do seu quarto, Afrodite também admira a lua que a cada instante parece brilhar com mais intensidade e magnitude, atraindo mais e mais o seu “olhar blue” que, cintilante, lembra aquele beijo”.
AFRODITE
Por que essa cena não sai da minha cabeça?…
(Com tantas dúvidas em sua cabeça tão “pura”, Afrodite deita-se em sua cama e abraça fortemente sua boneca de pano que tens desde quando ainda era uma bebezinha de colo)
AFRODITE
Será que estou realmente apaixona… Não, não pode ser, eu nem conheço aquele boy, nem o nome dele eu sei… Mas por que ele me beijou daquela maneira tão imprevista e inesperada? E por que será que eu gostei tanto a ponto de não conseguir mais esquecer?… Por que meu coração está tão abrasado desta maneira?… É algo sobrenatural, surreal… Mágico! Não consigo explicar. Há uma alegria dentro de mim, uma alegria estranha, uma alegria que eu nunca senti em toda a minha vida, nunca mesmo… Será isso a paixão que tanto falam e que tanto eu lia nos contos?… Será?
(Afrodite não entende o que sente, mas dentro de si ela já sabe: Realmente está apaixonada; E com os olhos fulgentes, logo está a tornar-se à cena do beijo que tanto gostara de protagonizar)
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“No baile charme”…
(Tânia e Quinho ainda continuam a se beijar como se não tivesse ninguém e nada ao redor)
SOLANGE
Rogéria, será que eles vão ficar dando “maio” a noite toda?
(Solange e Rogéria continuam a observar de longe)
ROGÉRIA
Ih, deixa os dois serem felizes, Solange… Vamos procurar uns boys pra gente também.
(Rogéria puxa Solange, que se prende à coluna que sustenta o teto do salão)
SOLANGE
Não, meu cabelo nem tá tão bonito… Nem passei laquê direito.
ROGÉRIA
Quer morrer intoxicada, menina? Você gastou quase o laquê todo da Tânia, seu cabelo chega a estar igual um capacete de tão duro e armado que está.
(Solange emburra a cara e dá meia-volta)
ROGÉRIA
Ei, vai pra onde?
SOLANGE (envergonhada)
Pra casa, ué! Meu cabelo não está igual um capacete? Então… Vou enfiar a minha cara num buraco e não sair nunca mais.
ROGÉRIA
Ah, para de neurose, Solange… Seu capacete até que é bonitinho… Quer dizer… Seu cabelo está “SuperCharmoso”, prima, está da hora!
(Solange ri)
ROGÉRIA
Então, vamos aproveitar a noite?
SOLANGE
Vamos!
(Rogéria sorri e puxa Solange pelas mãos para o meio do salão; Rogéria se requebra adoidada e Solange fica com vergonha, mas não consegue soltar-se da prima)
Na outra parte do salão, Tânia e Quinho param de se beijar…
TÂNIA
É tão bom estar aqui com você, Quinho.
QUINHO
Milagre a sua mãe deixar você vir pro baile.
TÂNIA
Ela não deixou… Eu disse que ia dormir na casa da minha tia pra estudar com a Solange.
(Quinho sorri maliciosamente e fixa seus olhos nos olhos de Tânia)
QUINHO
Minha pitchula, vamos dar um fight lá na minha casa?
(Diante de tal convite, Tânia fica sem reação)
QUINHO
Já é ou já era?
(Hesitante, Tânia responde)
TÂNIA
Não sei, Quinho… Acho melhor não… Deixa pra outro dia.
QUINHO
“Péra” aí… Não vai me dizer que você ainda é virgem?
TÂNIA
Virgem? Claro que não… Imagina!
(Tânia tenta disfarçar, mas sua cara já a entrega)
QUINHO
Então quero uma prova de amor.
TÂNIA
Prova de amor?… Que prova de amor?
QUINHO
Uma transa… Um fight bem gostoso lá na minha casa. Rola?
TÂNIA
Quando?
QUINHO
Amanhã.
TÂNIA
Amanhã?! Mas já?
QUINHO
Você me ama, não ama?
TÂNIA
Amo, amo muito.
QUINHO
Então amanhã, de noite, te espero lá na minha casa. Ok?
(Quinho dá uma bitoca em Tânia e depois de uma piscadela, vai embora, deixando-a sozinha no meio do salão)
TÂNIA
Amanhã?… O que eu faço?
(Insegura, Tânia não para de pensar nas palavras do namorado)
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Alex nem espera o baile acabar e já vai pra casa… Luís acorda ao ouvir passos no quarto.
LUÍS
Ué, já voltou, Alex? O baile acabou cedo hoje?
(Luís esfrega os olhos para tentar enxergar melhor o irmão, pois o está vendo como uma miragem embaçada)
ALEX
Eu não esperei terminar… Sai antes e deixei elas por lá mesmo.
(Alex senta-se na cama e tira os sapatos, em seguida, tira a camisa jogando-a pelo canto e deita na cama, onde fica pensativo)
LUÍS
Não esperou o baile acabar?… Que milagre é esse? Você sempre é o último a sair do salão…
ALEX
Não sei o que está acontecendo comigo, estou diferente hoje.
LUÍS
Diferente? Diferente como?
ALEX
Não sei… Até rejeitei a Tati, porque não conseguia tirar a minha deusa do amor da mente.
LUÍS
Isso tudo é amor, meu irmão?
ALEX
Amor? Mas eu nunca senti isso antes, por ninguém… Nem mesmo pela Tati, apesar de já ter rolado com ela.
LUÍS
É porque finalmente você foi flechado pelo cupido do amor.
ALEX
Você sabe muito bem que eu não acredito nessas frescuradas, Luís… Mas que eu estou completamente gamado naquele broto, Ah… Isso eu estou.
(Alex, sorri, fechando os olhos e pensando em Afrodite)
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No dia seguinte na escola…
(Tânia e Solange caminham de braços dados pela calçada em frente ao portão da escola)
SOLANGE
E você vai dar a tal prova de amor pro Quinho, Tânia?
TÂNIA
Não sei… Eu estou com um pouquinho de medo, ainda me sinto insegura… O que você acha?
SOLANGE
Bem… Se fosse eu…
MARIA DAS GRAÇAS
Que bonito, né, Tânia!
(Tânia se assusta ao ouvir a voz da mãe, que se aproxima de mãos dadas com Tina e Tico)
TÂNIA
Mãe, o que a senhora está fazendo aqui?
MARIA DAS GRAÇAS
Vim trazer os seus irmãos.
(Tânia força sorriso, para amenizar o medo)
TÂNIA
Ah… Só pra isso?
MARIA DAS GRAÇAS
Não! Então quer dizer que você foi pro baile ontem? Que bonito…
TINA
Eu falei que ia contar tudo pra mamãe, Tânia… Eu falei.
TÂNIA
Baile?… Que baile?…
MARIA DAS GRAÇAS
Não precisa continuar mentindo, Tânia, a sua tia já confirmou tudo.
(Tânia gela-se da cabeça aos pés)
TÂNIA
Estou encrencada?
(Mesmo sabendo que sim, Tânia teima em perguntar; Tina, com ar de vingança, concorda lentamente com a cabeça, causando uma ira em Tânia, que a ameaça pelo olhar)
MARIA DAS GRAÇAS
Preciso responder mesmo, Tânia?
(Tânia abaixa a cabeça, tentando evitar olhar para a “fera”)
MARIA DAS GRAÇAS
E você, hein, Solange… Foi cumplice dela, né?
SOLANGE
Ops! Meu ônibus chegou… Tenho que correr, porque hoje tenho que cuidar de uma criança, vou ser babá… Tchauzinho, tia.
(Solange corre e nem sequer olha para trás; O sinal toca e Tânia sente-se salva pelo gongo, literalmente)
TÂNIA
O sinal!… Tenho que ir, mãe. Não posso perder a primeira aula.
(Tânia dá um beijo na bochecha da mãe e vai saindo)
MARIA DAS GRAÇAS
Espere!
(Feito uma estátua, Tânia para sem pestanejar)
MARIA DAS GRAÇAS
Espere seus irmãos… E de hoje você não me escapa. Teremos uma conversa muito séria.
(Tânia vira-se, aproximando da mãe)
TÂNIA
Hoje? Mãe, hoje eu preciso dormir de novo na casa da tia Das Dores… Deixa, vai? Só hoje.
MARIA DAS GRAÇAS
Não, nada disso! Hoje você vai pra casa… E lá conversaremos.
(Tânia fica triste, pois não terá como dar a prova de amor que Quinho tanto quer)
MARIA DAS GRAÇAS
Cuide de seus irmãos com mais cuidado dessa vez… Tchau, meu filhos!
(Tina e Tico abraçam Maria das Graças que vai embora; Tina orgulha-se da tristeza de Tânia)
TINA
Viu, Tânia, você está encrencada… Muito encrencada!
TÂNIA
Ah… Eu te mato, sua pentelha… Te mato!
(Raivosa, Tânia vai para cima de Tina, que sai em disparada pelo corredor; Tânia não consegue esconder sua fúria e num gesto afetuoso, Tico a abraça, tentando acalmá-la; Tânia se derrete pela afabilidade do irmão, beijando demoradamente a sua cabeça)
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(Maria das Graças caminha pela calçada e para no ponto de ônibus)
MARIA DAS GRAÇAS
A Tânia é uma dissimulada mesmo… Como consegue mentir olhando na minha cara? Quem essa menina saiu, cruzes, nem parece filha minha.
MARIA DOS PRAZERES
Falando sozinha, Graça?
(Maria dos Prazeres aparece do nada)
MARIA DAS GRAÇAS
Dos Prazeres, minha irmã querida… Quanto tempo!
(Maria das Graças abraça Maria dos Prazeres, que pelas costas não demostra alegria ao abraçar a irmã)
MARIA DAS GRAÇAS
Como você está? Nunca mais apareceu lá na minha casa…
MARIA DOS PRAZERES
Estou indo… E você? As crianças?
MARIA DAS GRAÇAS
Estamos todos bem, graças a Deus.
(Maria dos Prazeres sorri sem a mínima vontade)
MARIA DOS PRAZERES
E o Bené?
MARIA DAS GRAÇAS
Está bem também… Trabalhando como nunca. Ontem ele chegou tarde da noite em casa, todo quebrado… Pensei até que tivesse acontecido alguma coisa de grave com ele, mas não, ele me garantiu que trabalhou até tarde.
MARIA DOS PRAZERES
Trabalhou até tarde?… Engraçado, porque ontem nós fomos à praia para tomar sorvete de casquinha.
MARIA DAS GRAÇAS
O quê?!
(Maria das Graças fica surpresa com o que a irmã fala)
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No pátio da escola…
Afrodite caminha pelo pátio vazio e aproveita para olhar os trabalhos que estão colados nas paredes… Um cartaz em cor-de-rosa lhe chama a atenção e ela acua para lê-lo.
AFRODITE
Soneto de Luís Vaz de Camões…
“Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer”…
ALEX
“[...] É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder”…
(Alex vem ao longe, completando o texto e atraindo a atenção de Afrodite)
AFRODITE
Você?… Eu…
(Alex põe sua mão na boca de Afrodite, fazendo-a calar-se)
ALEX
Não fale nada, não estrague um momento como esse…
(Espontaneamente, Afrodite sorri)
ALEX
Depois do nosso beijo, eu não consegui tirar você da minha cabeça nem por um minuto… Sonhei até contigo, acordei pensando em você, vim pra cá refletindo sobre tudo o que está acontecendo e meu coração, antes de te conhecer eu não acreditava nessas coisas de coração, de amor, mais depois daquela cena tão linda que martela constantemente em meus pensamentos, eu passei acreditar e… Você aceita namorar comigo?
“Pega de surpresa, Afrodite não para de sorrir e nem consegue responder; Ansioso, Alex espera pela resposta”
(A imagem se congela num tom preto-e-branco)
Continua…

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