Um Amor e Duas Realidades – Capítulo 9

“Alex não quer mentir, mas se essa é a única saída para viver seu amor com Afrodite, ele está disposto a entrar nessa farsa e se passar por uma coisa que está bem longe da sua fidedigna realidade”…
ALEX
Se só rico poderei namorar a Afrodite, então rico serei… Seu Adamastor, eu concordo em me passar por um “burguês”.
(Mais seguro, Alex afirma com um sorriso nos lábios; Adamastor ri)
ADAMASTOR
Bem… Pelo visto os seguranças não estão aqui por perto. Vamos! Eu o acompanho até a sala de estar… Lembre-se Alex, você agora é um burguês, como vocês mesmo dizem, os jovens dessa época. Venha! No meio do caminho eu te explico como você deve prosseguir, está bem?
(Alex sorri e concorda com a cabeça; Adamastor abre o grande portão de grades e leva Alex, o instruindo em tudo o que fará)
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Na sala, Ruez e Marieta estão sentados no sofá.
(Ruez está emburrado e Marieta está alisando o seu braço, tentando acalmá-lo)
RUEZ
Não estou gostado “nada nada” dessa história da Afrodite namorar… Ela ainda é muito nova pra essas coisas.
MARIETA
Ruez, para de ser torrão, homem… A nossa filha já está na idade. E já se esqueceu de quando nós começamos a namorar, eu tinha a mesma que ela? Hum?
RUEZ
Mas é diferente… Se fosse por mim, filha minha não namorava nunca e de quebra, morreria virgem.
(Ruez fala, levantando-se e poiando-se na poltrona)
MARIETA
Ai, Ruez, que caretice, meu bem!
(Marieta exclama, gargalhando; Adamastor e Alex aparecem e param na porta)
ADAMASTOR
Boa noite, doutor Ruez! Boa noite, dona Marieta!… Esse aqui é o Alex e ele está à procura de Afrodite.
(Ruez encara Alex e Marieta o olha de uma forma enojada; Alex fica envergonhado; Afrodite aparece, contente, e Cidinha vem logo atrás)
AFRODITE
Papai, mamãe, estou bonita?…
(Afrodite vê Alex, que a olha admirado)
AFRODITE
Alex!…
(Alex e Afrodite sorriem apaixonadamente um para o outro)


(Policial Almeida corre atrás dos moleques, mas eles se escondem) 
POLICIAL ALMEIDA (gritando)
Ei, vocês!… Se continuarem correndo ficarão mais encrencados ainda! Serei obrigado a atirar, hein! Estou avisando!
(Os moleques se espelham, confundindo o Policial Almeida que nem os veem entrando em uma casa velha, que na verdade, é o esconderijo do Metralha, o dono do morro)
Metralha está dormindo num sofá velho, que de um pequeno buraco, um rato escapa… Os moleques entram correndo e o acordam, que assustado, levanta rapidamente e pega logo o seu fuzil, apontando-o a 360°.
METRALHA
Quem tá aí?
PIOLHO
Calma, chefe… Somos nós. ‘Os moleque’!
(Informa Piolho, o líder dos moleques, os famosos espias da favela)
METRALHA
Ah, são vocês? Mas o que quê houve? Entraram feito umasgalinha no sio, caramba…
PIOLHO
É que tem um gambé atrás de nós.
METRALHA
Gambé? Ele não viu vocês entrando aqui não, né? Senão o nosso esconderijo vai pro ralo.
(Metralha pergunta e preocupado, olha pela janela)
PIOLHO
Não, não, pode ficar tranquilo, chefe… Nós entramo na surdina.
METRALHA
Vai ter um dia que eu vou estourar os miolo tudo desses gambé desgraçados!… E eliminar essa raça ruim de vez.
(Mal-encarado, Metralha aponta a arma para fora da janela)
PIOLHO
Ah… Falando em raça ruim, acho que temos um vira-casaca aqui no morro.
METRALHA
Quem é o infeliz?
(Metralha pergunta, apontando o fuzil na direção de Piolho, que se amedronta)
PIOLHO
Calma aí, chefe, cuidado com essa arma aí.
METRALHA
Se for alguém do bando, já sabem né? Vão tudo pra vala.
(Metralha mira em cada um, que se esquivam)
PIOLHO
Não é ninguém do bando não, chefe… Pode ficar tranquilo.
(Mesmo desconfiado, Metralha abaixa a arma)
PIOLHO
É o Alex… O filho da Das Dores, a tia que fazia doce pá nós quando a gente era menor, lembra? Ele tava no maior papo com esse gambé que tava atrás de nós. Pareciam muito amiguinhos, e tudo.
METRALHA
O Alex?… Então quer dizer que o Alex é um traidor? Piolho, busca ele aqui… Quero colocar aquele traidor cara a cara e saber qual é a dele.
PIOLHO
Ih, patrão… Ele saiu todo na beca… Acho que não deve ter voltado ainda não.
METRALHA
Então deixa… Amanhã eu esmago aquele rato.
(Metralha dá um sorrisinho de lado e assopra o cano do seu fuzil)
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(Afrodite corre e abraça Alex; Ruez não se agrada)
AFRODITE
Mamãe, papai… Esse é o Alex, o meu futuro namorado!
(Afrodite o apresenta, pegando a sua mão e entrelaçando seus dedos nos dele)
MARIETA (esnobe)
Então… Esse é o tal príncipe encantado, minha filha?
(Marieta pergunta, analisando Alex de cima a baixo)
ALEX
Boa noite!
(Alex os cumprimenta, meio sem jeito; Ruez e Marieta não demonstram nenhuma simpatia)
AFRODITE
Pode se sentar Alex, venha!
(Feliz, Afrodite puxa Alex pelo braço até o sofá; Alex senta-se, desconfortável e Afrodite senta-se ao seu lado, ainda de mãos dada com ele; Emburrado, Ruez senta-se em sua poltrona e Marieta fica atrás dele, fazendo-lhe massagem nos ombros)
RUEZ
Então rapaz, me fale um pouco sobre você.
ALEX
Falar sobre mim?
(Alex fica nervoso, solta a mão de Afrodite e começa a esfregá-la na outra, misturando todo seu suor de nervoso)
ALEX (nervoso)
É…
(Alex olha para seus sogros e nada consegue falar; Adamastor está olhando tudo de longe, em um dos corredores da mansão)
ADAMASTOR
Vai, Alex… Fala tudo o que ensaiamos…
(Adamastor torce em voz baixa; Maria dos Prazeres aparece)
MARIA DOS PRAZERES
O que é que você está fazendo, hein, Adamastor? O seu lugar é lá fora, no carro. Por acaso, o seu Ruez sabe que você invadiu a casa? Sabe? Eu vou lá falar com ele agora mesmo.
(Maria dos Prazeres ia em direção à sala e se assusta ao ver Alex)
MARIA DOS PRAZERES
Ei, aquele ali é o Alex, o meu sobrinho… Mas o que ele está fazendo aqui?
ADAMASTOR
Ele veio pedir a Afrodite em namoro.
MARIA DOS PRAZERES
Ah, mas não pode ser… O doutor Ruez nunca que deixaria a dondoquinha da Afrodite namorar um moleque de favela. Não ia mesmo!
ADAMASTOR
Ele se passará por rico.
MARIA DOS PRAZERES
Ah, espertinho, mas eu não vou deixar. Entre ele e o Fábio, eu prefiro o meu filho… Claro, por que eu não pensei nisso antes? Passar o Fábio como rico e assim empurrá-lo pra cima da Afrodite… É uma ótima ideia! E enquanto ao Alex, acabarei com esse teatrinho agora mesmo.
(Maria dos Prazeres já ia com toda a vontade, mas Adamastor a segura forte pelo braço)
ADAMASTOR
Você não vai a lugar nenhuma, Maria dos Prazeres.
MARIA DOS PRAZERES
Me solte, seu velho, quem você pensa que é pra falar assim comigo?
ADAMASTOR
Se você abrir o bico, eu conto pra sua irmã tudo o que sei.
MARIA DOS PRAZERES
Eu hein, tá ficando caduco, já, seu velho? Contar o quê? E de que irmã você está falando?
ADAMASTOR
Da Maria das Graças… Eu conto pra ela que vi você e o Bené se beijando na praia.
(Maria dos Prazeres muda e seu semblante fica pesado)
MARIA DOS PRAZERES
Não fale isso nem de brincadeira, está me ouvindo? E você não pôde ter visto nada, a praia estava praticamente deserta naquele dia, não tinha ninguém.
ADAMASTOR
Ah, mas eu vi… Maria dos Prazeres, se você estragar o plano do Alex, eu conto tudo pra Graça. Então? Topas guardar segredo?
MARIA DOS PRAZERES
Fazer o quê, né? Não tenho outra saída.
(Vem que não tem escolha, Maria dos Prazeres concorda; Adamastor sorri)
MARIA DOS PRAZERES
Agora me solte, que você está me machucando.
(Adamastor larga o braço de Maria dos Prazeres, que o encara cruelmente e depois olha para Alex, com inveja)
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“Casa de Maria das Graças”…
(Tina está prestes a responder sobre Tânia e Maria das Graças não entende o porquê de tanto suspense)
MARIA DAS GRAÇAS
Fale de uma vez, Tina… Onde está a Tânia?
TINA
A Tânia…
TICO
A Tânia já está dormindo, mamãe… E disse que não iria jantar.
MARIA DAS GRAÇAS
Não vai jantar? Mas por quê? Ela adora frango com o meu molho… Isso é verdade, Tina?
(Tina demora a responder e Tico a olha, com um olhar amedrontado; Tina toma coragem e então responde, de cabeça baixa)
TINA
É sim, mãe… A Tânia está mesmo dormindo.
MARIA DAS GRAÇAS
Muito estranho ela já estar dormindo a essa hora… Sentam-se, crianças, eu vou colocar o prato de vocês.
(Tico e Tina sentam-se à mesa)
TINA (pensamento)
Ah, eu bem que poderia ter entregado a Tânia… Mas, agora ela vai ter que me dar a maquiagem e a meia-calça dela.
(Tina assim pensa, querendo tirar vantagem por acobertar a irmã)
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Tânia havia ido para cumprir a prova de amor e Quinho parece não acreditar…
TÂNIA
Não vai nem me convidar para entrar, Quinho?
QUINHO
Ah, claro… Entre!
(Quinho pega na mão de Tânia, que entra; Quinho fecha a porta; Tânia olha a casa toda e senta-se na cama; Quinho e Tânia se entreolham, sem saberem o que fazer)
QUINHO
E aí?
TÂNIA
Já estou aqui, Quinho.
(Maroto, Quinho sorri; Tânia também sorri, olhando no fundo dos olhos dele; De repente a toalha de Quinho cai e ele, envergonhado, logo a pega e a enrola em seu corpo; Tânia ri, com a mão na boca)
QUINHO(envergonhado)
Desculpa, não era…
(Tânia se levanta e inesperadamente, beija Quinho; O beijo é verdadeiramente apaixonado e Quinho pega Tânia no colo, deitando-a na cama e lentamente, vai abrindo e tirando o vestido dela, deixando-a somente de sutiã e calcinha; Quinho beija todo o corpo de Tânia, em seguida tira as suas peças mais íntimas e por fim, eles se amam)
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Ruez, Marieta, Afrodite e Alex estão sentados à enorme mesa de jantar, que se encontra na luxuosa copa da mansão.
(Marieta pega um sininho que está sobre a mesa, e o toca; Ninguém entende nada)
RUEZ
Marieta, o que é isso?
MARIETA
Você vai ver querido.
(Marieta sorri e toca novamente o sino; Todos continuam sem entender nada; Impaciente, Marieta toca o sino com mais força)
MARIETA
Ai, que empregados mais incompetentes… MARIA!
(Maria dos Prazeres aparece correndo, com a bandeja na mão; Alex fica surpreso ao ver sua tia)
MARIA DOS PRAZERES
Sim senhora!
MARIETA
Está surda, Maria dos Prazeres? Eu estou tocando o sino a uma eternidade.
MARIA DOS PRAZERES
Desculpa, dona Marieta, é que eu tinha me esquecido que esse era o alerta… Aqui já está a comida.
(Maria dos Prazeres põe a bandeja sobre a mesa)
MARIETA
Da próxima vez, você seja mais alerta, lesma!
(Maria dos Prazeres fica com raiva por dentro; Alex sente dó da tia)
ALEX
Tia, eu não sabia que a senhora trabalhava aqui.
(Todos estranham a forma como Alex tratou Maria dos Prazeres e Adamastor, de longe, lamenta se o plano for por água abaixo)
RUEZ
Tia? Como assim?… Ela é sua tia?
(Alex fica nervoso; Maria dos Prazeres pensa um pouco e logo pensa numa desculpa para dar)
MARIA DOS PRAZERES
Não, doutor Ruez… Na verdade, eu… Eu fui babá do Alex, quando ele era criança e… E até hoje, ele me chama de tia, né Alex.
(Nervoso, Alex sorri e concorda com a cabeça; Adamastor sorri, com a virada espetacular que Maria dos Prazeres deu)
MARIETA
Hum… Muito comovente essa história, mas… Vamos ao jantar!
(Marieta fica animada e instrui Maria dos Prazeres a tirar a tampa da bandeja, que assim faz)
MARIETA
Bem… Como prato principal, teremos lagosta.
(Afrodite lambe os beiços e sorri)
MARIETA
Alex, né?
ALEX
Sim, sim… Na verdade, meu nome é Alexandre, mas todos me chamam de Alex desde que eu nasci.
MARIETA
Nominho de pobre esse o seu, hein… Pavoroso!
AFRODITE
Mamãe!
MARIETA
Desculpa, mas é verdade, né?… Enfim, Alex, você gosta de lagosta?
ALEX
Lagosta? É… Acho que sim.
(Alex ri de nervoso, pois mal sabia segurar um garfo, imagine comer lagosta)
ALEX
Mas antes de comer, eu gostaria de ir direto ao assunto…
(Alex levanta)
ALEX
Seu Ruez e dona Marieta, os senhores me permitem a mão da Afrodite em namoro?
“Marieta desvia o olhar, preferindo não responder, Ruez emburra a cara e faz suspense, enquanto Afrodite sorri, encantada com aquele momento único para ela… Alex vê Afrodite tão contente e então olha em seus olhos brilhantes, enquanto os seus estão aflitos, mas como está mais do que apaixonado, foi até fim e se manteve firme, agora basta aguardar a resposta do sogrão, que não demonstra nenhum tipo de satisfação”
(A imagem se congela num tom preto-e-branco)
Continua…

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