Um Amor e Duas Realidades – Capítulo 8

“Alex e Afrodite continuam a se olhar estagnados, feito duas estátuas que se enamoram, admirando-se, enxergando o coração um do outro só pela magia do olhar… Ah, que doce sensação essa… Quem não gosta nada dessa cena é Frederick, que não consegue disfarçar a sua revolta”.
FREDERICK
Como assim vocês estão namorando, Afrodite? Vocês já se conheciam por acaso?
AFRODITE
Não… Nós nos conhecemos quando começaram as aulas
(Afrodite responde, ainda olhando para Alex; Frederick conta nos dedos)
FREDERICK
Mas… Não faz nem cinco dias que vocês se conhecem e…
BRUNA (resmungando)
Rapidinha, hein… De boba essa sonsa não tem nada.
FREDERICK
Afrodite, você não pode namorar um qualquer que mal conhece… Isso não é atitude de uma menina de família como você.
AFRODITE
Foi amor à primeira vista, Frederick… Um amor que nasceu sem explicação. Um amor que nasceu do nada, mas que agora se tornou tudo… Um amor eterno, que nunca se acabará.
ALEX
Um amor eterno… Pra sempre!
(Alex e Afrodite sorriem emocionados, olhando um nos olhos do outro e se beijam, amorosamente; Tomado pela raiva e o ódio, Frederick sai e Bruna corre atrás dele, tentando alcançá-lo; Alex e Afrodite vão parando se beijar aos poucos
ALEX
Sábado…
(Alex sussurra no ouvido de Afrodite, que sorri)
AFRODITE
Sábado… Será o dia mais feliz da minha vida.
ALEX
Das nossas vidas.
(Alex e Afrodite se beijam apaixonadamente e todos aplaudem; Afrodite se aparta do beijo e sorri, envergonhada; Alex beija demoradamente a bochecha de Afrodite, que meiga, demonstra um sorriso meio acanhado)
———————————————————————————————————————————————————–
“O tão cobiçado sábado finalmente chega”…
Alex está em seu quarto, se preparando para ir à casa de sua amada para enfim oficializar o namoro… Alex passa dois dedos de seu perfume misturado com água e espirra uma gota de aromatizante de menta em sua boca.
MARIA DAS DORES
Tá feliz, né, meu filho? Dá pra ver a felicidade nos seus olhos.
(Orgulhosa, Maria das Dores comenta com o filho, ao ajeitar a gola da sua camisa)
ALEX
Tô sim, mãe… Mas, só que estou um pouco nervoso. Nem sei o que eu vou falar direito…
MARIA DAS DORES
Ah… Fale de todo amor que você sente por ela, meu filho. Deixe seu coração falar por você… E não se esqueça de ser sempre educado, hein.
(Alex sorri)
ALEX
Mãe, esses dias eu tive um pesadelo tão estranho…
MARIA DAS DORES
Pesadelo? Qual, meu filho?
(Enquanto Alex explica o tal pesadelo, Maria das Dores arruma as roupas de Alex)
ALEX
E foi assim, mãe… Foi tudo muito real, deu pra sentir a dor… Eu até fiquei chorando depois.
(Maria das Dores fica pálida e deixa cair no chão o frasco de perfume que iria guardar)
ALEX
Mãe… O que houve? A senhora está bem?
(Alex se abaixa para catar os cacos de vidro e atônita, Maria das Dores senta-se na cama)
MARIA DAS DORES
Esse seu pesadelo, meu filho… Me deu um arrepio na alma.
ALEX
Arrepio na alma? Que história é essa, mãe? Não sabia que existia arrepio em almas.
(Alex ri, descontraindo)
MARIA DAS DORES
Alex… Esse seu pesadelo pode ser um sinal.
(Alex deixa os cacos de lado e senta-se ao lado da mãe)
ALEX
Sinal? Mas eu não acredito nisso, mãe… O que pode acontecer de ruim? Eu vou me oficializar com a menina que eu amo, mãe. Nada de ruim vai estragar esse momento. Nada!
(Alex se levanta e pega um embrulho que está sobre o guarda-roupa)
ALEX
Mãe, eu não vou poder catar os cacos, senão eu me atraso, ela mora longe.
MARIA DAS DORES
Deixa que eu cato, filho… Pode deixar.
(Maria das Dores se abaixa ante aqueles cacos e os junta)
ALEX
Tchau, mãe!
(Alex beija a cabeça de Maria das Dores e sai, feliz, levando o embrulho embaixo do braço; Aflita, Maria das Dores põe a mão no coração)
MARIA DAS DORES
Senhor, proteja o meu filho…
(Maria das Dores fecha seus olhos e eleva seu coração em oração)
———————————————————————————————————————————————————–
Alex desce o morrotodo “pomposo” e o policial Almeida se aproxima cheio de autoridades.
POLICIAL ALMEIDA
Ei, parado, você aí!
ALEX
Quem? Eu?
POLICIAL ALMEIDA
É, você mesmo. Vai pra onde?
ALEX
Visitar a minha namorada.
POLICIAL ALMEIDA
E que pacote é esse aí… É droga?
ALEX
Não senhor.
POLICIAL ALMEIDA
É arma?
ALEX
Não.
POLICIAL ALMEIDA
Não? Então o que é, então?
ALEX
É só um livro, senhor.
POLICIAL ALMEIDA
Livro? Por que é que eu acho que você está mentindo?… Me passa esse pacote aqui agora!


(Lentamente, Alex estende o pacote para o policial Almeida, que bruscamente, o pega com força; Policial Almeida encara Alex, que está com medo, feito um gatinho de rua)


“Mansão dos Smith; Quarto de Afrodite”…
(Afrodite pega um vestido do guarda-roupa e estende sobre o seu corpo)
AFRODITE
O que acha desse vestido, Cidinha?
CIDINHA
Muito bonito! Lindo!
(Cidinha responde, sentada na cama, olhando para Afrodite; Afrodite sorri)
AFRODITE
Então vou colocá-lo.
(Cidinha sorri; Afrodite olha para o relógio de parede) 
AFRODITE
Ihh, tenho que me arrumar depressa… O Alex já deve estar chegando.
(Afrodite se apressa; Cidinha se levanta e se aproxima de Afrodite)
CIDINHA
Afrodite, eu não quero ser pé-frio, mas… Você não acha que está sendo muito precipitada não?
AFRODITE
Como assim, Cidinha?
CIDINHA
Você mal conhece esse rapaz, não sabe praticamente nada dele e ainda teve aquele pesadelo horroroso que só de lembrar, me dá um calafrio… Afrodite, você não acha melhor ir com mais calma? Conhecer ele melhor? Saber das verdadeiras intenções dele?
AFRODITE
Pra que esperar, Cidinha? Eu confio inteiramente nas intenções do Alex e tenho certeza que ele me ama de verdade… Eu penso até em me casar com ele, Cidinha.
CIDINHA
Casar?!
AFRODITE
Não agora… Mas no futuro, sim. Eu sinto, eu sei que fomos feitos um para o outro.
CIDINHA
Se você acha, quem sou eu para contrariá-la, né?… Torço para que vocês sejam muito felizes!
(Afrodite sorri e abraça Cidinha)
AFRODITE
Ah, Cidinha… A senhora é um amor de pessoa!
(Afrodite beija a bochecha de Cidinha e a abraça fortemente)
———————————————————————————————————————————————————–
Encurralado pelo policial, o que mais Alex quer é sair dali correndo…
POLICIAL ALMEIDA
Livro? Você tem lá tem cara de quem ler livro? Um faveladinho desse vai perder tempo lendo livro…
ALEX
É um livro sim, seu policial… É um presente pra minha namorada. Pode conferir se o senhor quiser.
POLICIAL ALMEIDA
Hum… Vou conferir.
(O policial Almeida tira o embrulho e se surpreende ao ver um grosso livro de páginas amareladas)
POLICIAL ALMEIDA
 “Contos, poemas e poesias de sentimento chamado amor”… Então é só um livro mesmo.
(O policial lê o título do livro e o dá para Alex, que o embrulha novamente)
POLICIAL ALMEIDA
Eu… Até me sinto envergonhado, mas… Você sabe como que é, né? Esse é meu trabalho.
ALEX
Tudo numa boa, seu policial.
(O policial sorri; Alex ia saindo)
POLICIAL ALMEIDA
Espera aí, rapazinho.
ALEX
O que foi?
POLICIAL ALMEIDA (sacana)
Tá apaixonadinho, é? Livrinho de amor… Hoje tem, né?
(Alex ri)
ALEX
Deixa eu ir, seu policial… Hoje eu vou pedir a menina que eu amo em namoro.
POLICIAL ALMEIDA
Boa sorte, amigão!… Posso te chamar de amigo, né?
(O policial estende a mão para Alex)
ALEX
Claro, claro… Muito obrigado!
(Alex aperta a mão do policial)
ALEX
Tchau, amigão!
(Alex sai correndo contente e o policial Almeida fica rindo sozinho; Involuntariamente, policial Almeida olha para o lado e vê um bando de rapazes “cheirando”, na encolha)
POLICIAL ALMEIDA
Ei, vocês aí!… Parados como estão!
(Os moleques fogem e o policial Almeida corre atrás deles)
———————————————————————————————————————————————————–
“Longe dali, na casa de Maria das Graças”…
(Tico está sentado no chão do quarto, brincando com seu ‘ônibus’ de madeira; Tina entra correndo)
TINA
Tânia e Tico, a mamãe está chamando para jantar… Ué, cadê a Tânia, Tico?
TICO
Saiu pela janela e disse que era pra gente falar que ela está dormindo e que não vai comer, entendeu?
TINA
Ah, mas eu vou contar tudo pra mamãe… Essa é a minha oportunidade de ferrar a Tânia de vez.
(Tina ia saindo correndo e Tico se levanta, nervoso)
TICO
Não, Tina, não faça isso com a nossa irmã!
TINA
Vou fazer sim… Vou contar tudo pra mamãe agora mesmo.
(Tina sai correndo contente e Tico vai atrás, preocupado) 
Na sala, Maria das Graças e Bené estão sentados à mesa, jantando.
BENÉ
Hum… Esse frango está bom!
(Bené exclama, deliciando-se com uma coxa de frango)
MARIA DAS GRAÇAS
É por causa do molho especial que eu fiz, porque o frango sem o meu molho não seria nada, né?…
(Bené ri e continua comendo a coxa de frango com a mão; Tina e Tico aparecem correndo)
MARIA DAS GRAÇAS
Que histeria é essa, crianças?… Onde está a Tânia?
TINA
A Tânia…
(Tico e Tina se entreolham)
———————————————————————————————————————————————————–
(Em sua casa, Quinho acaba de sair do banho e se seca; Batem na porta, constantemente)
QUINHO
Deve ser ela?
(Quinho fica todo animadinho, enrola-se na toalha e então abre a porta; Quinho abre um largo sorriso)
TÂNIA
Aqui estou, Quinho… Pronta para ser sua.
(Quinho e Tânia sorriem, olhando um nos olhos do outro)
———————————————————————————————————————————————————–
“Contente, mesmo depois de algumas horas de viagem em um ônibus lotado, Alex finalmente chega à mansão e admirado, olha abobado aquela morada que mais parece um castelo de verdade”…
ALEX
Nosso, mas como é grande a casa da Afrodite… Parece um palácio!
(Alex sorri, maravilhado com aquele “monumento”; Alex bate palmas, tentando chamar Afrodite)
ALEX (gritando)
Afrodite! Afrodite!
(Alex grita em vão, pois não há ninguém ali para recepcioná-lo; Educadamente, Adamastor sai do carro e pousa sua mão sobre o ombro de Alex)
ADAMASTOR
Deseja alguma coisa, rapazinho?
ALEX
Quero falar com a Afrodite, a minha…
(Alex vira-se e Adamastor se assusta ao vê-lo)
ADAMASTOR (surpreso)
O que você está fazendo aqui, Alex?
ALEX
Oi, seu Adamastor! Vim para pedir a mão da Afrodite ao pai dela… Mas, o que o senhor está fazendo aqui? É aqui que o senhor trabalha?
ADAMASTOR
Sim… Eu saí do morro pra trabalhar aqui.
ALEX
Ah… Sentimos a sua falta lá no morro.
(Adamastor sorri e aperta o ombro de Alex)
ALEX (feliz)
O senhor poderia chamar a Afrodite? Estou doido para vê-la.
ADAMASTOR
Alex, desculpa estragar a sua alegria, mas… O seu Ruez sabe quem você é? Sabe que você veio do Morro da Paz?
ALEX
Não sei… Eu acho que não, porque nunca falei isso pra Afrodite. Mas o que é que tem isso, seu Adamastor?
ADAMASTOR
Alex, eu conheço bem o patrão que tenho. O doutor Ruez é muito ganancioso, interesseiro… Ele é incapaz de deixar a princesinha dele namorar um plebeu favelado como você.
(Alex fica desolado)
ALEX
Então quer dizer que eu e a Afrodite… Não vamos poder namorar?
ADAMASTOR
Nem tudo está perdido, Alex… Eu tenho uma ideia que poderá ajudá-lo!
ALEX (animado)
Qual?
ADAMASTOR
Você vai ter que se passar por um alguém que você não é.
ALEX
Como assim, seu Adamastor? Eu não estou conseguindo entender aonde o senhor quer chegar.
ADAMASTOR
Você vai ter que fingir ser rico, Alex, pois só assim impressionará o seu sogro.
ALEX
Não, seu Adamastor, eu seria incapaz de mentir… Ainda mais me passar por uma coisa que não sou. Eu me orgulho muito de ser pobre e acho que isso não interferirá em nada no meu amor com a Afrodite.
ADAMASTOR
Eu seu, meu filho, mas o doutor Ruez é um homem muito mesquinho, inescrupuloso… Se você ama a Afrodite de verdade e deseja lutar por ela, você vai ter que mentir. Essa será a única saída. Então?
ALEX
Se for pela Afrodite e pelo meu amor que sinto por ela, eu concordo sim!
ADAMASTOR
Sei que não é o certo, mas isso mostra que você é verdadeiramente apaixonado pela menina Afrodite… Está de parabéns, Alex.
“Adamastor aperta a mão de Alex, que sorri, não um sorriso verdadeiro, mas sim um sorriso apreensivo, pois seu coração está inteiramente dividido entre a verdade e o amor que sente por Afrodite, a sua deusa do amor”
(A imagem se congela num tom preto-e-branco)
Continua…

Postar um comentário

0 Comentários