Um Amor e Duas Realidades – Capítulo 13

“Alex não é bandido, nunca foi e nem nunca quer ser. Não tem porte, nem marra, nem afinco para a vida da bandidagem… É pobre, mas tem um coração nobre. É do bem e nunca quer deixar de ser”…
METRALHA
E aí, menó? Vai querer ficar com morro? Vai querer se o dono disso tudo aqui?
(Decidido, Alex respira fundo e então responde)
ALEX
Não, Metralha… Você vai ter que me desculpar, mas eu não aceito.
METRALHA
Por que não, cara? Olha isso!…
(Metralha e Alex olham o morro a baixo) 
METRALHA
Isso tudo vai ser teu, rapá! Tu vai ganhar dinheiro como água, vai ter a cocota que quiser… E aí?
ALEX
Não, Metralha… Não é isso que eu quero pra mim.
(Metralha não acredita estar ouvindo aquilo)
METRALHA
Como não, ‘parcero’? Você vai ter poder, grana, muita grana! E vai ter também tudo… Vai ter esse mundão nas mão.
ALEX
Não, Metralha, eu já estou decidido… Eu não aceito isso, me desculpa!
METRALHA
Bom… Até quando eu tiver vivo, ainda tem tempo. Você pensa, depois tu me responde. Tá combinado?
(Alex não gosta dessa insistência, mas nada responde)
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(Aflitos, todos estão na sala; Alex entra triste e Maria das Dores vai logo ao seu encontro)
MARIA DAS DORES
O que aquele diabo queria, Alex? Ele não fez nada com você, né?
(Maria das Dores pergunta, preocupada, examinando o corpo de Alex)
ALEX
Não, ele nem encostou em mim…
LUÍS
E o que ele queria?
ALEX
É melhor que vocês não saibam.
MARIA DAS DORES
Por que, meu filho, ele te jurou de morte? Foi isso?
ALEX
Não, mãe, não é nada disso, mas é melhor que vocês não saibam mesmo.
(Alex explica, se afastando da mãe)
MARIA DAS DORES
Alex, desse jeito você me deixa preocupada.
LUÍS
Alex, se afasta desse canalha, cara… Ouça o que eu estou te dizendo. Se afasta desse bandido!
ALEX
Fiquem tranquilos, eu não farei nada que degenera a minha imagem.
SOLANGE
Hã?! Dá pra falar português, fazendo o favor?
(Alex ri)
ALEX
Não farei nada que manche a minha imagem. Entendeu agora?
SOLANGE
Ah sim, agora explicou.
(Alex acha ri, achando graça; Luís olha para o irmão, desconfiando que ele esteja escondendo algo; Maria das Dores fica preocupada)
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“Na manhã seguinte”…
(Na escola, Alex e Afrodite se abraçam fortemente)
AFRODITE
Ah, Alex… Como eu senti a sua falta! Por que você faltou todos esses dias?
(O semblante de Alex muda, ele para de sorri e se afasta do abraço, pegando as duas mãos de Afrodite)
AFRODITE
E esses machucados, esses hematomas?… Alex, você andou brigando?
(De leve, Afrodite passa a mão nas feridas do rosto de Alex; Alex fica triste e não responde)
AFRODITE
O que foi isso, Alex? Você brigou… Não foi?
(Alex olha fundo nos olhos de Afrodite e resolve mentir)
ALEX
É, foi isso… Mas eu não quero falar isso não. Quero falar sobre nós.
(Afrodite sorri)
AFRODITE
Falar sobre nós, é?
ALEX
É… Mas agora quero meu beijo. Já estava morrendo de saudade dos seus lábios.
(Afrodite sorri e Alex a beija; Emburrado, o inspetor se aproxima e apita; Rapidamente, Alex e Afrodite se afastam do beijo; O inspetor se prepara para falar e Afrodite o corta na hora)
AFRODITE
Já sabemos, inspetor, já sabemos… Já estamos indo para sala, ok?
(Afrodite sorri para o inspetor, que faz cara feia; De mãos dadas; Alex e Afrodite se olham sorridente e entram na sala de aula, correndo; O inspetor não gosta e vai cumprir a sua tarefa: Atazanar mais estudantes indisciplinados)


“Casa de Maria das Dores”…
(Maria das Graças havia ido visitar a irmã no morro e aproveitou para bolar um passeio que estava afim de fazer há muito tempo; Maria das Graças fala ao telefone com Maria dos Prazeres, que está no trabalho, usando o telefone da mansão dos Smith)
MARIA DAS GRAÇAS
Bom dia, minha irmã querida! Desculpa te atrapalhar no seu trabalho, mas estou ligando pra avisar que vamos fazer um “Bate e Volta” no domingo, vamos pra praia de Búzios… Vai querer ir também?
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(Maria dos Prazeres tira o telefone do ouvido por um segundo e faz cara de nojo, depois retorna a falar com a irmã)
MARIA DOS PRAZERES
Ah minha irmã, que pena, mas eu não poderei ir, tenho que trabalhar… Mas vai todo mundo?
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MARIA DAS GRAÇAS
Vai, vai, só o Bené que não vai… Ele disse que é a folga dele e que tirará o dia para descansar.
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(Assanhada; Maria dos Prazeres sorri maliciosamente)
MARIA DOS PRAZERES
Ah, vai tirar o dia pra descansar?… Desculpa, minha irmã, mas no domingo a minha patroa arrumou um almoço chique e eu tenho que preparar tudo… A perua é frenética, se eu não fazer o tal almoço direito, é capaz dela me demitir, acredita? Você entende, né? Eu queria muito, mas não poderei ir…
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MARIA DAS GRAÇAS
É uma pena mesmo, mas… Deixa pra uma próxima então. Deixarei você trabalhar em paz (risos). Tchau, minha irmã querida. Beijos! Tchau…
(Maria das Graças bate o telefone e vira-se para Maria das Dores)
MARIA DAS GRAÇAS
Desculpa gastar seu telefone, minha irmã…
MARIA DAS DORES
Que isso, Graça, foi você mesma que me deu esse aparelho… Pode usar à vontade, quando quiser.
(Maria das Graças sorri)
MARIA DAS DORES
A Prazeres não vai poder ir não?
MARIA DAS GRAÇAS
Não! Disse que tem que preparar um almoço chique pros patrões… Coitada da nossa irmã, ela é tão trabalhadeira, né? Às vezes sinto pena dela. Sozinha, sem marido e trabalhar para sustentar um filho… Coitada da Prazeres, ah!
(Maria das Graças e Maria das Dores ficam tristes)
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“Mansão dos Smith”
(Maria dos Prazeres bate o telefone e comemora sozinha)
MARIA DOS PRAZERES
Domingo!… Domingo será a minha chance de lascar o Bené. Ui!
MARIETA
Maria!… Quem é que estava ao telefone?
(Rígida, Marieta aparece perguntando e senta-se no sofá)
MARIA DOS PRAZERES
Não sei, era engano.
MARIETA
Engano? Parecia que você estava batendo papo na hora do serviço… E você sabe que isso é inadmissível.
MARIA DOS PRAZERES
Não, dona Marieta, longe de mim…
(Maria dos Prazeres vai para trás de Marieta e lhe faz massagem nos ombros; Marieta estranha, mas gosta da atitude)
MARIA DOS PRAZERES
Eu nunca faço uma coisa dessas, nunca!… Dona Marieta, a senhora está tão tensa, mais tão tensa…
MARIETA
Ah, é essa vida de madame esposa de industrial… O Ruez me deixa pra morrer, esse homem vive pra trabalhar. Ó, vida cruel!
(Marieta põe a mão na testa, fazendo cara de sofrimento forçado)
MARIA DOS PRAZERES
Por que vocês não tiram um dia para descansar?
(Marieta sorri aos poucos, aprovando a ideia)
MARIA DOS PRAZERES
Já que vocês têm carro, vocês poderiam ir pra alguma praia bem bonita… Quem sabe a praia de Búzios?
(Marieta sai do seu lugar e se ajeita em outra posição no sofá, podendo assim, olhar para Maria dos Prazeres)
MARIETA
Búzios, claro… É uma praia encantadora! O problema vai ser convencer o cabeça-dura do meu marido.
MARIA DOS PRAZERES
Mas isso é fácil, né? Toda mulher sabe como dobrar o seu marido… Se é que a senhora me entende, né?
(Marieta sorri, mas logo encara Maria dos Prazeres)
MARIETA
Maria, você me respeite, viu? Coloca-se no seu lugar de empregada e leve meu chá lá no quarto… Tenho que passar meu creme de beleza.
MARIA DOS PRAZERES
Sim senhora!
(Com jeito esnobe, Marieta sobe as escadas e Maria dos Prazeres senta-se no sofá, abraçando as almofadas)
MARIA DOS PRAZERES
Passa tanto creme de beleza nessa cara, mas não está adiantando nada, coitada (risos)… Domingo! Que domingo chegue logo! Ah… Nesse Domingo terei duas grandes vitórias… Primeira: Ficarei com o Bené enquanto a tonta da minha irmã não está em casa… E segunda: Se os cosmos conspirarem ao meu favor, a Afrodite e o Alex se encontram na praia e a farsa dele será descoberta na hora… Maria dos Prazeres, Maria dos Prazeres, se você não existisse, precisaria ser inventada o mais rápido possível!
(Maria dos Prazeres gargalha sozinha, batendo palmas)
MARIETA (grito)
Meu chá, sua lesma!
(Maria dos Prazeres se assusta ao ouvir o grito da patroa e prontamente, levanta-se do sofá)
MARIA DOS PRAZERES
Oh mulherzinha chata… Dessa vez não cuspirei, colocarei catarro nesse chá… Argh, que raiva dessa vida de empregada!
(Emburrada; Maria dos Prazeres caminha em direção à cozinha)
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“Domingo de manhã”…
É domingo por volta das 07:00h, o sol já está no alto, mas não tão quente como o de costume… Lá no morro, a família de Alex e seus amigos se preparam para a “Excursão da Farofada”.
SOLANGE
Mãe, será que esse mousse vai derreter pelo caminho?
(Solange aparece, trazendo uma travessa de mousse de maracujá)
ALEX
Vai, mas mole fica melhor ainda… Dá pra beber de canudinho.
(Alex ri, pegando a travessa e passando o dedo no mousse para colocá-lo na boca)
MARIA DAS DORES
Alex, desse jeito você vai bolir o mousse… A Farofa! Meu Deus, alguém pega a farofa que eu esqueci lá dentro.
TATI (rindo)
Farofa, meu Deus!
(Quinho se aproxima de Tati)
QUINHO
Tati, será que a Tânia vem?
TATI
Eu lá vou saber, Quinho?
(Ansioso, Quinho olha de um lado para o outro)
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“Casa de Maria das Graças”
(Maria das Graças se despede de Bené com uma bitoca e as crianças o abraçam)
BENÉ
Divirtam-se por mim!
MARIA DAS GRAÇAS
Você devia ir, Bené… Vai ser bom!
BENÉ
Ah, quero tirar o dia pro descanso… Vão vocês e se divirtam. E eu dormirei o dia todo.
MARIA DAS GRAÇAS
Você que sabe… Então, tchau! Bom descanso… Vamos, crianças!
(Bené sorri; Maria das Graças e os filhos saem)
BENÉ
Ahh, o dia inteiro só pra dormir… Que beleza!
(Ao se espreguiçar, Bené repara que Maria das Graças havia esquecido a chave sobre a mesa)
BENÉ
Ih, a Graça esqueceu a chave… Agora já era! Vou deixar a porta aberta pra quando ela chegar, não precisar me acordar.
(Bocejando, Bené vai até o quarto e deita-se na cama, voltando a dormir)
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(Maria dos Prazeres e seu filho, Fábio, caminham pelo morro)
MARIA DOS PRAZERES
Fábio, faça tudo o que combinamos, tá? Quando você vê a família do seu Ruez lá na praia, você fala pra tia Das Dores que a Afrodite é namorada do Alex, tá bom?
FÁBIO
Uhum!
(Maria dos Prazeres sorri, maliciosamente)
MARIA DOS PRAZERES
Agora vamos depressa, antes que você perca essa “Excursão de Farofada”.
(Fábio ri, achando o nome da excursão engraçado)
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“Mansão dos Smith; Sala”
(De chapelão de sol, Marieta está em frente ao espelho, esticando a sua cara)
MARIETA
Passei muito creme para o sol não queimar a minha macia pele de pêssego.
RUEZ
Ah, Marieta… Ate quando saímos para nos divertir, você não deixa essas vaidades de lado?
MARIETA
Claro que não, meu bem, eu sou uma madame! Tenho que preservar a minha pele.
(Afrodite e Cidinha descem as escadas)
AFRODITE
Já estou pronta!
(Afrodite avisa, sorridente)
RUEZ
E o Alex, minha filha? Você não o convidou para ir com a gente?
AFRODITE
Ele disse que tinha um compromisso hoje.
MARIETA
Ainda bem!… Porque carregar aquele cafona a tiracolo ninguém merece.
(Afrodite fica triste; Ruez suspira e nega com a cabeça; Com ar superior, Marieta não se arrepende de ter falado tal coisa)
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“Praia de Búzios – Tarde”
(Já está de tarde, e todos aproveitam para se divertir; As crianças correm pela areia e se divertem na água; Os adultos jogam conversa fora e alguns jogam até bola; No outro lado da praia, Ruez e sua família estão acomodados, protegidos com um grande guarda-sol; Marieta vê o fuzuê que os farofeiros fazem)
MARIETA
Olha que bagunça aquela… Com certeza devem ser um bando de pobres favelados. Não têm um pingo de classe, aff!
(Ruez e Afrodite olham também)
RUEZ
Eles estão se divertindo.
AFRODITE
E muito!
(Afrodite sorri olhando aquela “festança” e nem repara que Alex está ali no meio)
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“Algumas horas depois, já é quase finzinho da tarde”…
(Maria dos Prazeres chega à casa de Maria das Graças e abre o portão, cautelosamente)
MARIA DOS PRAZERES
Será que a porta está trancada?
(Maria dos Prazeres roda a maçaneta para conferir e a porta se abre; Feliz, Maria dos Prazeres entra e vai até o quarto, onde Bené dorme; Devagar, Maria dos Prazeres tira sua roupa, ficando somente com as peças íntimas e deita-se ao lado de Bené; Maria dos Prazeres passa a mão no corpo de Bené e o beija; Bené desperta aos poucos e se assusta ao ver a cunhada ao seu lado)
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“De volta à praia”…
(Alex nada no mar e de repente vê Afrodite)
ALEX
A Afrodite… Eu preciso me esconder. Ela não pode me ver aqui.
(Alex nada e sai correndo para se esconder atrás de umas rochas; De relance, Afrodite vê Alex correndo)
AFRODITE
Alex?
RUEZ
O que disse, Afrodite?
AFRODITE
O Alex… Parece que eu vi o Alex ali naquelas rochas.
RUEZ
Aonde?… Mas não tem ninguém ali, Afrodite!
AFRODITE
Mas eu vi, papai, ele estava correndo. Eu vi!
MARIETA
Deve estar delirando, minha filha… Esse sol está afetando a sua mente.
AFRODITE
Mas eu vi, gente… Eu tenho certeza, eu vi!
(Confusa, Afrodite fala sozinha em voz baixa)
No outro lado da praia, Fábio vê a família Smith e se lembra do que a mãe lhe instruiu a fazer.
FÁBIO
Tia Das Dores, ali a namorada do Alex.
(Todos ficam curiosos para saber quem é)
MARIA DAS DORES
Aonde, Fábio?
FÁBIO
Ali, ó! Ela e a família dela… A Afrodite, a dona Marieta e o seu Ruez.
(Maria das Dores vê e fica feliz)
MARIA DAS DORES
Vou chamar ela, né? Quero conhecer a minha nora e a família dela!
(Todos ficam empolgados)
MARIA DAS DORES (gritando)
Afrodite! Afrodite!
(Todos ajudam Maria das Dores a gritá-la; Ao longe, Ruez, Marieta e Afrodite escutam e veem todos acenando em suas direções)
AFRODITE
Por que será que aquelas pessoas estão me gritando?
(Ruez e Marieta não gostam; Afrodite fica confusa, pois não reconhece ninguém que está ali)
ALEX
E agora? Será que o plano vai pro ralo?
“Atrás de uma grande rocha, Alex fica aflito, pois sua farsa está há um pouco de ser descoberta”
(A imagem se congela num tom preto-e-branco)
Continua…

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