Um Amor e Duas Realidades – Capítulo 15

“A casa caiu, ou melhor dizendo… O castelo que era construído de amor, havia desmoronado por um duro golpe da realidade. Com a verdade à tona, Alex e Afrodite estão definitivamente proibidos de namorarem. E agora? Será o fim do nosso casal protagonista? Será o fim de um amor tão bonito e tão singelo como o deles? Será?… Cheio de dúvidas e temores, é assim que Alex está se sentindo nesse tenso momento. Sente-se como um nobre cavalheiro que perderá a sua amada princesa de vez”
RUEZ
Os dois, fora da minha sala… Você, senhor-preguiça, está demitido.
CARLOS
Demitido? Mas… Ah, que saber? Assim vou ter mais tempo pra beber.
(Carlos ri, enquanto todos estão sérios; Ruez encara Alex)
RUEZ
E você, seu mentiroso… Afaste-se da minha filha, ou eu não sei o que sou capaz de fazer contigo.
ALEX
Mas, seu Ruez, eu amo a Afrodite… Independente de ser rico ou pobre, o meu amor por ela é verdadeiro.
RUEZ
Amor não interessa, agora saia! Vocês estão infestando a minha fábrica… Fora! Fora!
(Ruez se levanta, com raiva, e aponta para a porta, expulsando-os)
CARLOS
Olha lá como o senhor fala com o meu filho, hein!
(Carlos bota seu dedo na cara de Ruez)
RUEZ
Olha lá como o senhor fala comigo… Sou capaz de colocar vocês na cadeia num estalar de dedos. Pagam pra ver?
(Covarde, Carlos vai abaixando o dedo devagar)
CARLOS
Vamos, Alex…
(Carlos e Alex iam saindo; Com os olhos lacrimejados, Alex dá meia-volta e se aproxima de Ruez novamente)
ALEX
Seu Ruez, por favor! Me perdoe!… Eu amo a sua filha.
(Alex se ajoelha aos pés de Ruez, que rude, o levanta pelo braço; Encarando Alex, Ruez se prepara para batê-lo)
CARLOS
Tira as mãos do meu filho.
(Carlos puxa Alex para perto de si)
CARLOS
“Vambora”, Alex… Agora quem não quer que você namore essa garota sou eu.
(Com ódio, Carlos e Ruez se encaram; Carlos puxa Alex para irem embora)
ALEX (triste)
Eu não vou desistir da Afrodite, seu Ruez… Não vou desistir!
(Carlos e Alex saem)
RUEZ
Verônica, cancele todas as reuniões de hoje… Eu tenho que ir para casa agora mesmo.
VERÔNICA
Senhor Ruez, mas hoje é a reunião com os representantes das filiais da “Master Cars”… E essa reunião já está marcada há meses, não tem como canelá-la de última hora.
RUEZ
Droga!
(Emburrado; Ruez senta-se na cadeira giratória)
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“Morro da Paz”
(Maria dos Prazeres e Maria das Graças continuam no portão, uma de frente para a outra)
MARIA DAS GRAÇAS
Não vai nem me convidar pra entrar, Prazeres?
MARIA DOS PRAZERES
Desculpa, Graça, mas eu estou com um pouquinho de pressa… Com licença!
(Maria dos Prazeres tenta sair, mas Maria das Graças entra na sua frente)
MARIA DAS GRAÇAS
Espera, Prazeres! Vim para conversarmos.
MARIA DOS PRAZERES
Desculpa, minha irmã querida, mas eu preciso ir trabalhar… Noutra hora conversaremos.
(Maria dos Prazeres tenta escapar, mas Maria das Graças põe a mão na frente)
MARIA DAS GRAÇAS
Não, Prazeres! Nós vamos conversar… Uma conversa de mulher para mulher!
MARIA DOS PRAZERES
Tá bom, Graça… E sobre o que você quer falar?
MARIA DAS GRAÇAS
Como sobre o quê, Prazeres? Eu vi você na cama com o meu marido… É normal que eu queira uma explicação, você não acha?
MARIA DOS PRAZERES (dissimulada)
Ah, minha irmã, eu já falei… O Bené sempre correu atrás de mim, me seduziu… E eu fraca, acabei cedendo…
(Aquelas palavras ferem o coração de Maria das Graças, que deixa uma lágrima cair)
MARIA DOS PRAZERES
Confesso… Eu também sempre fui apaixonada por ele… Lembra-se de quando ele se mudou pra cá pro morro? Eu logo me interessei por ele, mas como ele preferiu você… Mas pensa que era só você que ele tinha? “Na-na-ni-na-não”! Quando ele se sentia infeliz ao seu lado, ele logo corria para os meus braços… Ou melhor dizendo, ele sempre corria para os meus peitos… Para as minhas pernas… E para a minha… Melhor não falar, né?
(Maria dos Prazeres ri e Maria das Graças se emburra)
MARIA DOS PRAZERES
Sabe por que ele me procurava tanto, Graça? Sabe? Por que eu sempre fui muito mais mulher do que você, Graça… Muito mais!
(Maria das Graças chora e Maria dos Prazeres gargalha em sua cara; Quando Maria dos Prazeres vai parando de rir, Maria das Graças enche a mão e lhe dá um forte tapa na cara; Maria dos Prazeres cai no chão e enfurecida, olha para a irmã, com a mão na cara, onde apanhou)
MARIA DOS PRAZERES
Ah… Como ousa me bater, Graça?
MARIA DAS GRAÇAS
É aí mesmo… No chão, que você merece ficar, sua vadia!
MARIA DOS PRAZERES
Vadia?… Vadia é…
(Maria dos Prazeres se levanta e Maria das Graças lhe dá outro tapa, derrubando-a novamente; Maria das Graças gargalha e Maria dos Prazeres fica com ódio)
MARIA DOS PRAZERES
Isso não vai ficar assim, Graça!
(Maria das Graças nem dá chance da irmã levantar e lhe dá outro tapa; Os fofoqueiros se aproximam e ficam a olhar)
TATI
Essa família, hein, vou te contar… Cada dia um bafafá diferente.
(Rindo, Tati cochicha com uma de suas amigas)
QUINHO
A mãe da Tânia e a tia dela… O que será que houve?
(Maria dos Prazeres olha para todas aquelas pessoas, ficando com mais raiva e vergonha)
MARIA DOS PRAZERES (gritando)
Estão olhando o quê? Eu hein… Vão lavar uma roupa, vão cuidar das suas vidas.
(Todos riem, escarnecendo de Maria dos Prazeres; Maria das Graças sorri)
MARIA DAS GRAÇAS
Está com vergonha, Prazeres? Quer que os outros saibam por que é que você está aí no chão? Quer?!
(Ainda no chão, Maria dos Prazeres encara a irmão, que sorri debochadamente; Maria das Graças vira-se para todos)
MARIA DAS GRAÇAS (gritando)
Sabem por que essa safada está no chão? Sabem?… Não?! Eu vou contar pra vocês!… Eu peguei essa cadela na cama com o meu marido. Dá pra acreditar numa coisa dessas?
(Todos ficam boquiabertos)
MARIA DAS GRAÇAS (gritando)
É de cair o cabelo mesmo… Essa safada, sangue do meu sangue… É uma traidora!
MARIA DOS PRAZERES
Cair cabelo…
(Maria dos Prazeres fala sozinha e por trás, se levanta e puxa o cabelo de Maria das Graças, iniciando assim, uma briga de verdade; Maria das Graças e Maria dos Prazeres caem no chão e rolam morro a baixo, entre com tapas, arranhões e puxões de cabelos: Uma típica briga de barraqueiras; Correndo, todos a seguem, acompanhando aquele “espetáculo” de briga)
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(Carlos e Alex chegam ao morro)
CARLOS
Vou dar uma chegadinha ali na birosca… Quer ir também?
ALEX
Não… Só não vá beber muito, hein, pai.
CARLOS
Só meio copo… Pra comemorar a liberdade.
(Carlos ri, dá dois tapinhas nas costas de Alex e vai em direção à birosca; Triste, Alex senta-se na calçada)
ALEX
Acabou… Nunca mais vou poder tocar na minha deusa do amor outra vez… Nunca mais!
(Alex abaixa a cabeça e começa a chorar; Policial Almeida aparece)
POLICIAL ALMEIDA
Alex! Estava com saudades de mim, amigão?
(Policial Almeida senta-se ao lado de Alex, mexe em seu cabelo cortado à maquina, mas ele nem levanta a cabeça)
POLICIAL ALMEIDA
Está tudo bem, Alex?
(Com o rosto molhado de lágrimas, Alex olha para o policial Almeida)
POLICIAL ALMEIDA
O que houve, amigão? Por que você está chorando?
(Quando Alex ia responder, o policial Almeida olha para o alto do morro e fica boquiaberto)
ALEX
Que cara é essa, policial Almeida?
POLICIAL ALMEIDA
Santo Cristo… O que é… Aquilo?
ALEX
Aquilo? Aquilo o quê, policial?
(Impressionado, Policial Almeida aponta e Alex vira-se para ver, chocando-se também)
ALEX
Não pode ser…
(Alex fica boquiaberto e se levanta; Policial Almeida se levanta, em seguida, e apita)
POLICIAL ALMEIDA
Paradas aí!
(Seguidas pela multidão, Maria dos Prazeres e Maria das Graças param de brigar aos pés do Policial Almeida)
ALEX
Tias?!
(Maria das Graças e Maria dos Prazeres olham para Alex e depois se encaram, friamente)
POLICIAL ALMEIDA
Posso saber que baderna é essa?
(Maria das Graças se levanta)
MARIA DAS GRAÇAS
Foi Essa… Foi essa pessoa falsa que mereceu essa surra.
MARIA DOS PRAZERES
Mas saiba que isso não vai ficar assim, ouviu Graça?
(Levantando-se, Maria dos Prazeres assim ameaça a irmã)
MARIA DAS GRAÇAS
Por quê? Quer brigar de novo, é?
MARIA DOS PRAZERES
Ah, Graça, você me paga!
(Maria das Graças e Maria dos Prazeres já iam brigar novamente, mas policial Almeida apita e elas se contêm)
POLICIAL ALMEIDA
Eu só não levo as senhoras direto pra delegacia porque… Porque… Porque não perderia meu tempo com essa baixaria.
MARIA DOS PRAZERES
Não precisa perder o seu tempo mesmo, policial… Eu vou trabalhar, porque não tenho homem que me banque.
MARIA DAS GRAÇAS
Mas bem que gosta de correr atrás dos casados, né?
(Maria dos Prazeres encara Maria das Graças e sai)
ALEX
Tia, o que foi isso?
MARIA DAS GRAÇAS
Uma longe história, Alex… Mas… Policial Almeida, você não havia sido demitido?
(O policial Almeida ri)
POLICIAL ALMEIDA
Por pouco não… O delegado Barreto não pode me demitir, ele só falou aquilo no turbilhão do momento… Para eu ser demitido precisaria passar por uma longa investigação em prol da minha exoneração do cargo e como isso demoraria muito tempo, o delegado resolveu me dar outra chance.
MARIA DAS GRAÇAS
Quem bom!
(Maria das Graças sorri para policial Almeida)
ALEX
Que bom, amigão, fico feliz por você.
(Alex abraça policial Almeida que sorri, feliz)


(Em casa, Maria das Dores passa remédio num grande arranhão que marca o rosto de Maria das Graças)
MARIA DAS GRAÇAS
Ai!
(Maria das Graças grita, com a ardência do remédio)
MARIA DAS DORES
Ah, minha irmã, como é triste essa situação… Duas irmãs brigando! A Prazeres sempre foi assanhada mesmo, mas nunca pensei que chegasse a esse ponto.
MARIA DAS GRAÇAS
Ah, mas hoje ela aprendeu a lição… Ah se aprendeu!… Ai, isso arde, Das Dores!
(Maria das Graças reclama de dor e Maria das Dores passa o algodão mais de leve)
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(Aborrecida, Maria dos Prazeres chega à Mansão dos Smith para mais um dia de trabalho; Adamastor para de lustrar o carro para cumprimentá-la)
ADAMASTOR
Bom dia, Maria dos Prazeres! Como passas?
MARIA DOS PRAZERES
Não é da sua conta, seu velho intrometido.
(Maria dos Prazeres ia saindo e Adamastor repara as marcas no seu corpo)
ADAMASTOR
Foi atropelada, Maria Prazeres?
(Maria dos Prazeres não gosta e volta)
MARIA DOS PRAZERES
Quer saber de uma coisa, velho intrometido?… Vou contar toda a verdade pra todo mundo, agora mesmo.
ADAMASTOR
Verdade… Que verda… Não, você não faria isso! Esqueceu que eu tenho um trunfo contra você? Se você contar, eu conto pra sua irmã que…
MARIA DOS PRAZERES
Que o quê, Adamastor? Que eu e o Bené somos amantes? Vai lá, vá correndo contar… Eu não tenho mais nada a perder mesmo.
ADAMASTOR
Não? Mas então ela já sabe… Ah, isso tudo foi a ira dela, né? Mas como eu queria tá lá pra te ver apanhando, Maria, como eu queria.
(Adamastor ri e Maria dos Prazeres o “fulmina” só pelo olhar; Enfurecida, Maria dos Prazeres entra na mansão e preocupado, Adamastor para de rir)
ADAMASTOR
Meu Deus, essa maluca vai contar tudo… MARIA, ESPERA UM POUCO! MARIA!
(Adamastor corre atrás de Maria dos Prazeres, que nem sequer o atende)
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“Mansão dos Smith – Sala”
(Frederick e Bruna estão sentados no macio sofá felpudo; Bruna está segurando uma xícara de porcelana branca e bebe o que está dentro)
BRUNA
Então, vai contar de vez tudo o que sabe pra Afrodite?
FREDERICK
Vou! Só assim ela termina com aquele… Favelado e vem correndo pra mim.
(Maliciosamente, Bruna sorri e dá mais uma golada no que está na xícara; Sorridente, Afrodite desce as escadas)
AFRODITE
Desculpa a demora, pessoal… Vamos ensaiar?
(Frederick se levanta)
FREDERICK
Antes eu preciso te contar uma coisa muito séria, Afrodite.
AFRODITE
Que coisa?
(Frederick olha para Bruna e depois retorna o olhar para Afrodite)
FREDERICK
Você está sendo enganada.
AFRODITE
Enganada? Como assim, Frederick… Eu estou sendo engana por quem?
(Frederick pega a mão de Afrodite e olha em seus olhos)
FREDERICK
Pelo Alex… Afrodite, o Alex não é quem você pensa que ele é.
(Desacreditada, Afrodite solta a mão de Frederick e se afasta)
AFRODITE
Do que você está falando, Frederick? Eu confio inteiramente no Alex e tenho certeza que ele nunca mentiria para mim.
(Frederick se prepara para falar; Maria dos Prazeres aparece e para um pouco afastada de Afrodite)
MARIA DOS PRAZERES
Afrodite… O Alex é um grande mentiroso!
(Afrodite fica sem entender nada; Surpresos, Frederick e Bruna se entreolham e depois olham para Afrodite; Adamastor aparece correndo, mas agora já é tarde)
AFRODITE
Do que vocês estão falando, gente? Eu não estou entendendo nada.
(Irritado, Ruez entra em casa e bate forte a porta)
RUEZ
Ainda bem que você está aqui, Afrodite, porque eu quero ter uma conversa muito séria com você… O seu namorado não passa de um canalha barato.
AFRODITE
Papai, por que o senhor está falando assim do Alex?
MARIETA
Ai, mas que gritaria é essa? Será que nem meu sono de beleza eu posso tirar na minha própria mansão?
(De máscara de beleza facial, Marieta, reclamando, sai do quarto e para na metade da escada)
MARIETA
O que é isso? Por um acaso é um comício e ninguém me convidou?
RUEZ
Sem piadinhas, Marieta! O que eu tenho pra falar é muito sério.
(Com jeito esnobe, Marieta põe a mão na boca; Furioso, Ruez olha para Afrodite)
RUEZ
Afrodite, a partir de hoje, você está proibida de ver aquele molambento do Alex… Está me entendendo?
(Afrodite não entende; Frederick sorri)
AFRODITE
Por que essa proibição agora, papai? O senhor gostou tanto dele…
RUEZ
Até saber que ele é um tremendo mentiroso, um mau caráter… E até saber que ele é pobre!
(Afrodite leva um baque)
MARIETA
(apavorada)
Pobre?!… Minha filha estava namorando um…
(Marieta desmaia e de poucos degraus, cai da escada; Prestativo, Adamastor corre para acudir Marieta)
AFRODITE
(decepcionada)
O Alex mentiu para mim…
RUEZ
O namoro entre vocês está definitivamente rompido… E proibido para sempre!
“Afrodite fica chocada, pois da pior maneira descobriu que o seu príncipe encantado, na verdade, não passa de um sapo que vive num brejo; Ruez está tomado pelo ódio e nem vê a esposa desmaiada no chão; Satisfeita, Maria dos Prazeres olha para Adamastor e sorri, escarnecendo-o; Adamastor olha para Afrodite, que de branca, está pálida; Frederick e Bruna se olham e sorriem, vitoriosos; Atônita com essa notícia, Afrodite senta-se no sofá e chora”
(A imagem se congela num tom preto-e-branco)
Continua…

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