Um Amor e Duas Realidades – Capítulo 20

“Ao ver Afrodite sendo beijada por Frederick, Alex enche-se de tristeza, pois agora passa a ter certeza de que aquele romance tão jurado de amor eternal, havia se acabado de vez… Completamente com seu coração dilacerado, ele seca suas lágrimas e sai, emburrado”
(Depois de muito relutar, Afrodite consegue se afastar do beijo e limpa a boca com a mão)
AFRODITE
Frederick, por que você fez isso?
(Afrodite fica sem jeito e Frederick sorri)
FREDERICK
Desculpa, Afrodite… Eu não resisti!… Isso não mais acontecerá, eu prometo.
AFRODITE
Assim espero, Frederick… Não quero que confunda as coisas!
FREDERICK
Ok!
(Radiante, Frederick sorri para Afrodite, que continua séria)
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(Voltando da casa de Quinho, apressada, Tânia esbarra em Alex, que nem se desculpa e sai correndo, chorando)
TÂNIA
Alex?
(Tânia não entende o jeito estranho do primo; Parados em frente ao portão da escola, Tina e Tico esperam impacientes por Tânia)
TINA
Ai, cadê a Tânia?… Eu vou contar pra mamãe que ela…
(Correndo, Tânia aparece e para na frente dos irmãos)
TÂNIA
Vamos, crianças?
TINA
Eu já falei que não sou criança, que saco! E onde você estava, hein, Tânia?
TÂNIA (mentindo)
É… Eu… Eu… Eu estava… Estava na papelaria.
TINA
E o que você foi fazer na papelaria, hein?
TÂNIA
O que eu fui fazer na papelaria, oras? Eu fui… Fui comprar uma caneta nova… Ih, Tina, chega de perguntas e vamos logo.
TINA (desconfiada)
Saiba que essa história está muito estranha, Tânia… Muito estranha!
TÂNIA
Vamos logo pra casa, antes que fique tarde.
(Tânia fica nervosa e puxa os irmãos, até o ponto de ônibus)
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(Afrodite se incomoda com os olhares e sorrisos apaixonados de Frederick)
AFRODITE
Eu vou-me embora… Já está tarde. O meu motorista já deve ter chegado.
(Afrodite ia saindo, mas Frederick a segura pelo braço)
FREDERICK
Posso acompanhá-la até o portão, pelo menos?
(Mesmo triste, Afrodite sorri e concorda com a cabeça; Frederick retribui o sorriso e caminha com Afrodite; Bruna aparece)
BRUNA
Ah, vocês estavam juntos?
(Confusos, Afrodite e Frederick se entreolham)
FREDERICK
Estávamos… Por que, Bruna?
BRUNA
Nada… Ah, agora sei por que o Alex foi embora daquela maneira tão estranha.
AFRODITE
O Alex?
BRUNA
Sim… Ele sai correndo e chorando. Parecia atordoado.
(Afrodite fica triste e Frederick sorri)
FREDERICK (alegre)
Então ele viu o beijo… Yes!
(Bruna fica boquiaberta)
BRUNA (surpresa)
Vocês se beijaram?
AFRODITE
Não, tudo não passou de um mal entendido… O Alex entendeu tudo errado.
(Os olhos de Afrodite marejam e ela sai correndo)
FREDERICK (gritando)
Afrodite!
(Frederick ia atrás de Afrodite, mas Bruna o impede)
BRUNA
Calma, Frederick! Calma! Será que eu tenho que pensar em tudo?… Eu sabia muito bem que vocês estavam conversando aqui atrás e que certamente você iria beijar a Afrodite… Por isso mandei o Alex vir até aqui para flagrá-los… Entendeu? Agora é o Alex que não vai querer mais nada com a Afrodite, sabe por quê? Primeiro: Porque ela desconfiou dele, lá no lance do colar… E segundo: Depois desse beijo, ele passará a achar que vocês estão de compromisso… Não foi um plano em tanto?
(Bruna sorri maliciosamente para Frederick, que vai sorrindo aos poucos)
FREDERICK
Bruna, Bruna… Você é uma gênia!
(Empolgado, Frederick abraça Bruna, que se derrete toda, sorrindo com um brilho no olhar)
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(Correndo, Afrodite sai da escola, perguntando por Alex para todos, mas ninguém sabe lhe responder; Triste, Afrodite para na frente do portão da escola; Adamastor chega e buzina, atraindo a atenção de Afrodite, que corre até o carro)
AFRODITE
Seu Adamastor, você sabe aonde o Alex mora?
ADAMASTOR
Sei sim… Ele mora no Morro da Paz. Por quê?
AFRODITE
Me leve para lá agora mesmo.
(Afrodite fala, já entrando no carro)
ADAMASTOR
Perdoe-me, senhorita Afrodite, mas eu não posso… O seu pai ficaria uma fera.
AFRODITE
Seu Adamastor, eu estou mandando… Por favor!
ADAMASTOR
Desculpa, Afrodite, mas eu realmente não posso… O seu pai proibiu que você se aproximasse do Alex uma vez e eu não quero mais decepcioná-lo, visto que quase perdi o meu emprego quando resolvi ajudá-los. Esqueceu?
AFRODITE
Por favor, Adamastor… Isso depende muito da minha felicidade! Eu preciso falar com o Alex, antes que todo o nosso amor desfaleça de vez… Me leve até a casa dele. Por favor!
(Afrodite implora com os olhos tristonhos; Adamastor fica com pena e acaba cedendo)
ADAMASTOR
Está bem, Afrodite… Se isso depende tanto da sua felicidade, eu te levo até lá. Mas os seus pais não podem nem desconfiar.
(Contente, Afrodite sorri e beija as bochechas de Adamastor, agradecendo-o; Mesmo sabendo que está errado, Adamastor fica feliz ao poder ajudar; Esperançosa, Afrodite sorri alegremente, ajeitando-se no banco traseiro do carro)


“Morro da Paz”
A noite vai findando-se lentamente e o céu vai escurecendo vagarosamente.
(Sem esperanças e completamente triste com a vida, Alex chega ao morro e vai até o esconderijo de Metralha, que se assusta, apontando-o um fuzil)
METRALHA
Ah, é você, menó?
(Metralha abaixa a arma)
ALEX
O Piolho e os moleques me deixaram entrar.
METRALHA
Hum… E aí? Qual é que tu manda?
(Alex suspira, tomando coragem para falar)
ALEX
Lembra-se daquele dia que você me prometeu o morro?… Então… Eu vim para falar que aceito.
(Feliz, Metralha sorri e dá um vigoroso abraço em Alex)
METRALHA
Agora assim, rapá, sabia que tu não ia recusar o poder assim tão fácil (risos)… Mas, o que fez você mudar de ideia?
ALEX (triste)
As adversidades da vida.
(Alex abaixa a cabeça)
METRALHA
Então quando eu virar presunto, o morro é teu.
(Alex olha para Metralha e sorri sem a mínima vontade)
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(Ao chegarem, Adamastor para o carro na entrada do morro e Afrodite olha o mesmo, um pouco assustada)
AFRODITE
Então é aqui que o Alex mora?
ADAMASTOR
Sim… Eu também morava aqui antes de ir trabalhar lá na mansão. Apesar de ser uma favela, é um lugar muito bom de se viver… Sabia?
(Afrodite nada responde e continuar a olhar aquele lugar tão humilde)
ADAMASTOR
Eu vou parar o carro aqui, porque pode ser perigoso entrar dirigindo… Vamos ter que subir a pé.
AFRODITE
Está bem… Mas vamos depressa, antes que seja tarde demais.
(Afrodite fica triste e seus olhos enchem de lágrimas)
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(Na prisão, Maria dos Prazeres está sentada no canto da cela, chorando muito; Sapatão se separa das outras presidiárias e se aproxima de Maria dos Prazeres)
SAPATÃO
Tá sozinha aí, brotinho?
(Ao ouvir aquela voz rouca sussurrando em seu ouvido, Maria dos Prazeres se assusta e se levanta; Sapatão se aproxima cada vez mais de Maria dos Prazeres, encurralando-a contra a fria parede da cela)
SAPATÃO
Desde que você chegou aqui eu reparei nessa sua boquinha vermelha.
(Sapatão se prepara para beijar Maria dos Prazeres, que lhe dá um tapa na cara; Todas as presidiárias ficam chocadas; Com cara de dor, Sapatão alisa o rosto, onde levou o tapa)
SAPATÃO
Mãozinha pesada a sua, hein!
MARIA DOS PRAZERES
Eu gosto é de outra fruta, ok?… Faça o favor de não me cortejar mais, ouviu bem?
SAPATÃO
É assim que eu gosto… Quando mais bravinha, melhor!
(Sapatão ri e joga beijo para Maria dos Prazeres, que temerosa, vira a cara)
MARIA DOS PRAZERES
Eu preciso sair daqui… Preciso!
(Maria dos Prazeres fica com medo e discretamente olha para Sapatão, que a admira, com cara de desejo; Medrosa, Maria dos Prazeres vira-se de costas e se benze)
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(Adamastor e Afrodite caminham pelo morro)
ADAMASTOR (saudoso)
Bons tempos em que vivi aqui…
(Afrodite sorri, prestando atenção no que Adamastor diz; Desconfiado, Metralha os observa, juntamente com os moleques)
METRALHA
Tem carne nova no pedaço…
PIOLHO
Será que eles são espia dos gambé?
METRALHA
Não sei… “Vamo” descobrir agora!
(Metralha e Piolho botam uma máscara de meia preta e sorrateiramente surgem por trás de Adamastor e Afrodite; De repente, Afrodite olha para trás e se assusta; Metralha tapa a boca de Afrodite com a sua mão e a arrasta até o seu esconderijo; Adamastor continua falando sozinho, sendo seguido por Piolho)
ADAMASTOR
Então, Afrodite… Está gostando do morro?
(Adamastor olha para o lado e se assusta ao não ver Afrodite)
ADAMASTOR
Afrodite?
(Piolho tapa a boca de Adamastor, arrastando-o até o esconderijo de Metralha)
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(Ao chegar no esconderijo, Afrodite morde a mão de Metralha e ele a solta)
METRALHA
Ai!
(Metralha grita de dor e põe a mão na boca, para ver se ameniza a dor)
AFRODITE (amedrontada)
Me deixe sair daqui, por favor!
(Afrodite tenta correr, mas Metralha a agarra; Piolho entra com Adamastor, que tenta se soltar, mas não consegue; Adamastor fica desesperado ao ver Afrodite naquele estado; Adamastor tenta falar, mas é impedido por Piolho; Amedrontada, Afrodite tenta soltar-se de Metralha, mas não consegue)
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(Caminhando de volta para casa, Alex reflete em toda a sua vida)
ALEX
Virar bandido não foi o que a minha família sonhou pra mim… Imagina o desgosto que a minha mãe sentirá? E do que adiantou todo esforço que ela e meu pai não mediram para me tornar em quem sou hoje? Até estudo, graças à generosidade da minha madrinha que até hoje paga os meus estudos… Eu não posso decepcioná-los. Eu sou muito feliz como sou e não vai ser essa mágoa que estou sentindo da Afrodite que vai manchar minha história… É isso! Vou lá falar com o Metralha que renuncio e que não quero mais assumir o morro… Vou continuar como sou. Integro e honesto!
(Alex sorri e volta para o esconderijo de Metralha)
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(Metralha olha nos amedrontados olhos azuis de Afrodite e sorri, apaixonando-se por aquela meiga menina)
METRALHA
Piolho… Leva o velhote lá pro quarto. E me deixa sozinho com essa gatinha aqui.
AFRODITE (desesperada)
Não! O que você vai fazer comigo?
METRALHA
Fica calma… Eu num vô fazer nada de mal com você… Muito pelo contrário.
(Sorrindo, Metralha fala, alisando o rosto de Afrodite, que se apavora; Piolho trancafia Adamastor em um quarto velho e sai da casa, indo fazer a ronda; Quanto mais Adamastor bate na porta, querendo sair, mas Afrodite tenta se libertar de Metralha, que a agarra forte)
AFRODITE
Me solta!
(Em vão, Afrodite tenta soltar-se; Metralha sorri, admirando cada traço de Afrodite)
METRALHA
Eu num acredito em amor, mas olha… Tô encantado por tanta beleza vinda de uma pessoa só… Gostei de você! Quero você pra mim!
(Admirado com tanta beleza, Metralha vai lentamente para beijar Afrodite, que apavorada, reluta; Alex entra no esconderijo e se depara com a cena, chocando-se)
ALEX
Afrodite?!
(Metralha e Afrodite olham para Alex; Afrodite sorri)
AFRODITE (feliz)
Alex!… Que bom que você meu me salvar, príncipe!
“Afrodite fica feliz ao ver seu “príncipe” e finalmente consegue se libertar de Metralha, que entristecido, olha o abraço entre os dois… Alex e Afrodite se abraçam fortemente, desejando em seus íntimos, nunca mais se separarem um do outro. Mas será que isso acontecerá?… Metralha fica triste e Alex o olha, duvidoso. Um tanto mais segura, Afrodite afoga-se no forte abraço que dá em Alex, que por sua vez, olha para Metralha, que se envergonha por ter se encantado por Afrodite”
(Confuso, Alex vai se afastando lentamente do abraço)
ALEX
Afrodite… O que você está fazendo aqui?
AFRODITE
Eu vim para falar com você, Alex… Mas… Ele me arrastou aqui à força e trancafiou o Adamastor lá dentro.
(Ainda assustada, Afrodite se agarra a Alex e encara Metralha)
METRALHA (arrependido)
Foi mal, Alex… Eu não sabia que ela era a tua garota.
(Ao ouvir tal coisa, Alex lembra-se do beijo entre Afrodite e Frederick, ficando triste e com os olhos marejados)
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(Alex e Afrodite chegam ao pico do morro; Adamastor chega depois e para um pouco afastado)
ADAMASTOR (gritando)
Vamos, Afrodite… Já está tarde! Seus pais devem estar preocupados.
(Afrodite se vira, olhando para Adamastor)
AFRODITE (gritando)
Espere um pouco, Adamastor… Antes eu preciso conversar com o Alex.
(Adamastor faz cara feia, não achando uma boa ideia; Sorrindo, Afrodite olha para Alex, que permanece sério)
AFRODITE (feliz)
Ah, Alex… Eu senti tanto a sua falta!
(Afrodite vai para beijar Alex, mas ele a impede)
AFRODITE
O que há, Alex? Por que está tão sério?… Não está feliz em me ver também?
(Alex encara Afrodite, que vai parando de sorrir gradativamente)
ALEX (ríspido)
Como tem coragem de me olhar nos olhos depois de tudo o que você fez, Afrodite?
AFRODITE
Hã? Do que você está falando, Alex?… Eu não estou entendendo.
ALEX
Do beijo… Do beijo que você deu no Frederick.
AFRODITE
Não, Alex, não é nada disso que você está pensando… O beijo foi…
ALEX
E também da joia que você me acusou de querer roubá-la.
AFRODITE
Alex, mas a joia…
ALEX
A joia não importa. Você não acreditou em mim e isso eu não tolero.
(Os olhos de Afrodite enchem-se de lágrimas)
AFRODITE
Aquele colar tem um grande valor sentimental para mim, mas… Isso já passou, até porque…
(Triste, Afrodite olha para a sua barriga, alisando-a)
ALEX
Mas agora é tarde demais, Afrodite.
(Surpresa, Afrodite olha para Alex)
ALEX
Se você me amasse, mas amasse de verdade, teria confiado em mim… Mas aquela sua desconfiança, só fez provar que tudo o que você dizia sentir por mim… Todo aquele amor, tudo era falso.
(Com os olhos banhados em lágrimas, Afrodite dá um forte tapa na cara de Alex e eles se encaram friamente; Perplexo, Adamastor observa tudo, um pouco afastado)
AFRODITE
Nunca mais, Alex… Nunca mais duvide do amor que eu sinto por você… Adeus, Alex! Adeus para sempre.
“Alex recebe essas palavras como um duro golpe do destino, fazendo com que o seu coração doa e a tristeza salte em seus olhos, que lacrimejantes, olham para Afrodite; Por sua vez, completamente magoada com as palavras ditas pelo seu amado, Afrodite sai correndo chorando, seguida de Adamastor, que tenta alcançá-la; Alex fica ali parado e se afoga em lágrimas, olhando aquele céu tão estrelado, que remete toda a sua melancolia”
(A imagem se congela num tom preto-e-branco)
Continua…
 NO PRÓXIMO CAPÍTULO: Afrodite sai do Brasil, juntamente com Frederick, e Alex assume o Morro. 

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