Um Amor e Duas Realidades – Capítulo 26

“O julgamento passou e Alex foi condenado… 28 anos de prisão pesam sobre as suas costas. Augusto Ferrari, como bom e profissional advogado que é, tenta de todas as formas encontrar provas para inocentar o seu cliente, mas Fábio forjou acusações muito graves contra o próprio primo. Vendo que não conseguirá, Augusto frustra-se por não poder ajudar Alex, que além de ser seu cliente, é seu amigo.  
“Penitenciária Alfredo Trajan (Bangu 2)”
(No final da fila com outros presidiários, Alex, com o clássico uniforme listrado preto-e-branco, entra na lotada e chora ao ver as grades se fechando)
ALEX: Como o mundo é injusto… Mas um dia, mesmo que demore… Eu vou provar pra todo mundo que sou inocente… Eu vou provar!
(Determinado, Alex seca suas lágrimas e olha para os outros prisioneiros, que o encaram)


Com a condenação de Alex, Maria das Dores sofre muito por isso.
(Chorando, Maria das Dores está sentada no sofá, abraçada por Luís e Solange)
MARIA DAS DORES: Eu não quero mais viver… Eu  não tenho mais por que viver… Eu quero, eu quero o meu filho aqui comigo.
SOLANGE: (enciumada) A senhora só gosta do Alex, é?
(Maria das Dores não responde e continua a chorar)
LUÍS: Claro que não, Solange, que pergunta mais besta… Ela só está sofrendo pela prisão do Alex.
(Solange faz cara de desdém e se retira da sala; Inconformado pelo jeito da irmã, Luís volta a consolar Maria das Dores)
LUÍS: (chorando) Mãe, não fica assim… Se a senhora desfalecer desse jeito, o que será da gente? O pai só vive bebendo, a Solange nem quer saber de nada… E eu, eu preciso muito da senhora, todos nós precisamos. E o Alex gostaria que a senhora estivesse bem, para quando ele voltar, a senhora não acha? Então, mãe… Eu sei que é difícil, eu também estou sofrendo muito pelo meu irmão… Vamos unir as nossas forças, que são fracas, mas juntos somos fortes.
(Sorrindo, Luís aperta as mãos de Maria das Dores, que encosta a cabeça em seu colo e continua a chorar; Compadecido, Luís faz cafuné na cabeça da mãe e sofre por vê-la naquele estado)
————————————————————————————————————————————————–
“Um mês depois…”
(Maria das Graças, juntamente com Tina e Tico, chegam da igreja de pastor Jonas)
MARIA DAS GRAÇAS: Gostaram do culto, meus filhos?
(Sorridentes, Tina e Tico concordam com a cabeça e Maria das Graças sorri; Quando estão prestes à entrarem em casa, eles avistam um caminhão de mudança e Maria das Graças)
MARIA DAS GRAÇAS: Caminhão de mudança? Será vizinhos novos? Venham, crianças! Vamos conhecê-los.
(Puxando os filhos pela mão, Maria das Graças se aproxima do caminhão; Verinha e seus filhos, Naldo e Paula, descem do caminhão)
VERINHA: Cuidado com essa mobília… Ela é nova!
(Verinha orienta aos ajudantes, que levam a mobília para dentro da casa)
MARIA DAS GRAÇAS: (simpática) Olá!
(Verinha se assusta  e então olha)
VERINHA: Ah… Oi!
MARIA DAS GRAÇAS: Vizinha nova?
(Verinha se prepara para falar)
MARIA DAS GRAÇAS: Ah, mas é claro, né? Se estão de mala e cuia, claro que são novos? Oh, cabeça minha! (risos) Não repare não, viu, é que eu sou assim, meio avoada mesmo!
(Sozinha, Maria das Graças e Verinha sorri, meio sem graça)
MARIA DAS GRAÇAS: Ah, desculpa não me apresentar… Meu nome é Maria das Graças, mas pode me chamar de Graça como todo mundo, viu? Esses são meus filhos caçulas… Tina e Tico.
(Educados, Tina e Tico sorriem e acenam; Feliz com a recepção, Verinha sorri)
VERINHA: Fico muito agradecida pela recepção. Somos novos aqui e ainda não conhecemos ninguém. Ah, meu nome é Vera, mas pode me chamar de Verinha… E eles são meus filhos, Naldo e Paula. Cumprimentem eles, filhos!
(Envergonhada, Paula sorri e Tico retribui; Eles se olham e envergonhados, desviam o olhar, ainda com o sorriso nos lábios; Naldo não obedece e Verinha puxa a sua orelha, espantando Maria das Graças; Emburrado e com a mão na orelha, Naldo acena)
VERINHA: Essas crianças de hoje em dia só funcionam assim, a base de puxão de orelha.
MARIA DAS GRAÇAS: Eu que o diga… Às vezes, uma boa palmada é a solução para todos os problemas.
(Verinha e Maria das Graças riem juntas; À partes, Tico e Paula continuam sorriem um para o outro; Simpática, Tina sorri para Naldo, que lhe mostra a língua e indignada, a menina faz o mesmo; Maria das Graças e Verinha reparam e não sabem o que fazer)
MARIA DAS GRAÇAS: (contornando) É… Vocês não gostariam de irem até à minha casa para comerem um pedacinho de bolo? A minha filha fez para comemorar o primeiro mês do meu netinho, o Luquinhas… Ele é tão fofinho, você precisa ver!
(Derretida, Maria das Graças fala do neto e Verinha sorri)
VERINHA: Obrigada, mas nós não queremos incomodar…
MARIA DAS GRAÇAS: Vocês não vão fazer essa desfeita, né?
(Verinha olham para os filhos, que a olham com olhar pidão e depois ela retorna a olhar para Maria das Graças)
VERINHA: Tá bom, nós aceitamos, mas só para não fazer desfeita. Mas ainda os espero para uma macarronada na nossa casa, hein!
(Amigáveis, todos sorriem; Maria das Graças os lavam até a sua casa, que fica de frente; No caminho, Tico e Paula continuam a se olharem, enquanto Tina e Naldo continuam implicando um com o outro; Maria das Graças e Verinha conversam, indo na frente)
————————————————————————————————————————————————–
“Semanas depois…”
“Penitenciária – Sala de Visitas”
(Algemado, Alex entra na sala e vê uma moça de costas; Alex se aproxima e o rosto da moça é revelado)
ALEX: (surpreso) Bruna?! Confesso que estou surpreso em te ver aqui… Não esperava receber a sua visita, ainda mais na prisão.
BRUNA: Ah, Alex…
(Fingindo compaixão, Bruna abraça Alex, que estranha a atitude)
BRUNA: Sei o quanto está sofrendo, meu amigo.
ALEX: Amigo?
(Lentamente, Bruna se afasta do abraço e pega as mãos de Alex)
BRUNA: Sim, sou sua amiga e você pode contar comigo para o que precisar, ok? Passou a reportagem da sua prisão no RJTV e assim que fiquei sabendo, vim correndo te visitar.
(Feliz com a visita, Alex sorri)
ALEX: Bruna… Eu agradeço a visita, mas como é amiga do Frederick, nunca pensei que nutrisse amizade por mim.
BRUNA: Eu não vou negar! Eu sou amiga do Frederick, mas ele me desapontou muito, sabe? Saiu do Brasil com a Afrodite e ficou esnobe… Acho que me enganei muito com aqueles dois.
ALEX: O quê? O Frederick e a Afrodite foram embora juntos? Co… Como assim?
BRUNA: Foram! Eles agora são grandes modelos de sucesso, devem estar até juntos.
ALEX: Não, não pode ser… A Afrodite repudiava essa história de ser modelo e também, mesmo que a gente estando brigados, ela não iria embora sem me procurar, pelo menos pra se despedir, sei lá.
BRUNA: Ai, Alex, como você é ingênuo… A Afrodite sempre foi a minha melhor amiga e sei que ela sempre gostou de se vangloriar, mesmo afirmando ao contrário. Se não quer acreditar em mim, então veja essa revista.
(Bruna tira uma revista de sua bolsa e dá para Alex; Com os olhos marejados, Alex lê a manchete)
ALEX: “Afrodite Smith e Frederick Campanello, as mais novas estrelas da moda já ganharam o mundo. Sucesso, carisma e muito glamour fazem dos dois jovens brasileiros, os modelos em maior ascensão do momento”… Mas então é verdade!
(Desolado, Alex enrola a revista e joga sobre a mesa)
BRUNA: Sei que você a amou, Alex, mas a Afrodite nunca valeu nada. Sofro em falar da minha amiga assim, mas é a pura verdade… Você não merece a cachorrada que ela fez com você. Logo você, que é um rapaz tão bonito, apessoado… Não merece sofrer por alguém que não te quer mais.
(Estranhando tantos elogios, Alex olha com dúvida para Bruna, que se aproxima lentamente)
BRUNA: Esquece a Afrodite, Alex… Você é maravilhoso e qualquer mulher faria tudo para tê-lo, inclusive eu.
ALEX: Bruna, eu…
(Antes que Alex possa continuar, Bruna o surpreende com um beijo na boca; Alex não queria, mas deixa se envolver pelo momento; Rapidamente, Bruna se afasta com a mão na boca e vira-se de costas)
BRUNA: Desculpa, Alex, eu não deveria… Mas não me controlei!
(Alex fica sem reação e palavras; Bruna vira o rosto, podendo assim olhar para Alex)
BRUNA: Você deve estar surpreso com essa atitude, né? Mas é que eu sempre foi afim de você, desde o colégio… Aí, te vendo assim nesse estado, eu não me controlei. Feliz Ano Novo, Alex… E até qualquer dia.
(Bruna se aproxima novamente de Alex, beija o conto da sua boca e vai embora; Surpreso, Alex fica pensando no beijo e ao olhar para a revista, uma raiva impetuosa invade o seu coração)
————————————————————————————————————————————————–
(Saindo da Penitenciária, Bruna atravessa a rua, colocando seus óculos escuros)
BRUNA: Ai, Alex, como você é bobinho… Mas até o seu beijo não é de se jogar fora, hein!
(Falando sozinha, Bruna sorri e caminha até um telefone público, onde começa a discar um número)
BRUNA: Alô… É a Bruna, Frederick… Como vai?… Ah, eu estou ótima, melhor impossível. Liguei pra avisar que o nosso plano segue perfeitamente e que o Alex vai ganhar a minha confiança rapidinho. Também… Depois do que eu fiz… Ui (risos). Calma, não precisa ficar com ciúme, lindo… Meu coração é só seu! Ah, eu sei que você ama a Afrodite, e falando nessa mosca morta, envenene-a muito contra o Alex, pois eu fiz o mesmo com o trouxa. Ah, e também a avise que iriei pra aí depois do Réveillon. Beijos, querido… Good Bye!
(Bruna bate o telefone e sorri, maliciosamente)
————————————————————————————————————————————————–
A Companhia de Modelos Iniciantes está fazendo mais uma turnê de sucesso e dessa vez na Cidade de Nova York, nos Estados Unidos. Mesmo não estando mais na profissão, Afrodite os acompanha por onde vão.
“The Plaza Hotel – Suíte de Afrodite”
(Em sua luxuosa suíte, Afrodite põe Ana para dormir, e senta-se em uma poltrona; Ao ver os flocos de neve que caem lá fora, Afrodite lembra-se de todos os momentos românticos que passara com Alex e uma tristeza invade o seu interior; Batem na porta e Afrodite retorna à realidade; Lentamente, Frederick entra e se aproxima de Afrodite, que se recompõe)
AFRODITE: Frederick, onde esteve? Saiu a mais de uma hora…
(Frederick fica nervoso e pensa em uma resposta para dar)
FREDERICK: É, eu… Eu estava… Estava dando uma volta pela cidade. O clima está maravilhoso, sabia?
AFRODITE: Ah…
(Afrodite nota o nervosismo de Frederick e sente um cheiro estranho, que não consegue decifrar)
FREDERICK: Afrodite, você não sabe vai acreditar no que acabei de descobrir? A Bruna acabou de me ligar do Brasil e ela disse que o Alex está preso.
(Afrodite choca-se com a notícia)
AFRODITE: (surpresa) O quê?!
(Afrodite olha para Ana, que dorme tranquilamente, então regula o seu tom de voz)
AFRODITE: Preso? Mas… Que história é essa?
FREDERICK: Sim, está preso. Parece que ele era um bandido perigoso, dono do morro onde morava.
AFRODITE: Não, isso não pode ser verdade, Frederick. Eu conheço o Alex e sei que isso é impossível. O Alex nunca seria um bandido perigoso… Ele é muito honesto.
FREDERICK: Tão honesto que foi pego roubando o seu colar, lembra-se? Afrodite, o Alex não presta e nunca prestou… E já está mais na hora de você esquecê-lo. Você é rica, famosa, linda… Está na hora de encontrar um novo amor… E quem sabe esse amor seja eu?
(Canastrão, Frederick põe a mão sobre a mão de Afrodite, que se acentua)
FREDERICK: Eu sei que a gente é muito novo, mas já somos bem responsáveis… Daríamos muito certo, eu tenho certeza! Afrodite, você aceita se casar comigo?
(Espantada com o pedido, Afrodite olha para Frederick, que sorri apaixonadamente; Ainda muito chocada com tudo, Afrodite desvia o olhar e nada responde)
————————————————————————————————————————————————————-
“Réveillon 1985”
Pessoas de roupas claras, pensamentos positivos e esperanças de futuro melhor, assim é o Réveillon no Morro da Paz. Maria das Graças e seus filhos decidiram passar o Ano Novo com Maria das Dores e os de sua casa, para os consolarem da falta que sentem de Alex.
(Maria das Graças, Tina, Tico e Tânia, com Lucas no colo, chegam ao Morro da Paz e se deparam com uma cena que os constrange; Os olhos de Tânia enchem-se de lágrimas ao ver Quinho e Tati se beijando fogosamente no meio da rua; Sorrindo, Quinho vai se afastando do beijo e ao olhar para o lado, se surpreende ao ver Tânia)
QUINHO: Tânia…
(Tânia o encara friamente; Ao ver o filho dormindo, Quinho fica orgulhoso e tenta se aproximar, mas Maria das Graças o impede de ver a criança, entrando na frente)
MARIA DAS GRAÇAS: Não chega perto!
QUINHO: Por quê? Eu tenho direito de ver o meu…
TÂNIA: Seu o quê, Quinho? O seu aborto? Saiba você que não tenho direitos nenhum sobre o meu filho. O filho é meu e você não quis saber dele quando ainda estava na barriga, então não venha querer fazer presença agora. Você teve a monstruosidades de me pedir pra fazer um aborto, mas fica com uma vagabunda no meio da rua.
(Tati não gosta do que ouve, mas não intervém)
TÂNIA: Vai saber se você já me traia com ela, quando a gente namorava.
(Culpados, Tati e Quinho se entreolham)
TÂNIA: Já estavam, né? Nem precisam responder! Quinho, com você é uma decepção atrás da outras… E você não sabe o quanto me arrependo de você. Eu te ama, mas agora eu tenho nojo de você… Nojo!
(Quinho e Tânia se encaram por alguns instantes e ela sai, chorando, seguida de Tico e Tina; Esnobe, Maria das Graças encara Quinho e ia saindo)
MARIA DAS GRAÇAS: E você, hein, Tati… Que decepção, hein! Mentir daquela maneira mais cínica no tribunal… Você não tem vergonha não, menina? A Das Dores praticamente criou você e o seu irmão depois da morte dos seus pais e você ainda tem o desplante de nos apunhalar pelas costas? Você e esse verme se merecem mesmo.
(Quinho começa a ficar irritado e envergonha, Tati abaixa a cabeça; Superior, Maria das Graças por entre os dois e sai)
QUINHO: (safado) Vem, minha potranca, vamos continuar de onde paramos.
(Quinho agarra Tati e tenta beijá-la)
TATI: (triste) Me deixa, Quinho… Não tô mais com vontade!
(Chorando, Tati sai correndo e se tranca dentro de casa, arrependida de todas as coisas erradas que fez; Completamente irritado com o que aconteceu, Quinho vai ao pico do morro e se droga para tentar sair da amargura que o assola)
————————————————————————————————————————————————–
“Casa de Maria das Dores”
(Maria das Graças, seus filhos e neto chegam e todos os abraçam; Percebendo que Tânia está triste, Solange se aproxima)
SOLANGE: Oi, prima… Que cara é essa? Nem parece que é Ano Novo…
TÂNIA: Você não vai acreditar no que eu vi, prima. O idiota do Quinho e a Tati se beijando no meio da rua. Ele já me traia com ela antes, eu tenho certeza.
(Solange fica boquiaberta)
SOLANGE: Ah, mas essa Tati é mesmo uma biscateira e o Quinho um safado!
(Triste, Tânia concorda; Eles percebem que Tina está prestando atenção na conversa)
SOLANGE: Vem, prima, vamos conversar lá no quarto.
(Solange e Tânia iam caminhando para o quarto, quando percebem que Tina está indo atrás)
TÂNIA: Aonde você pensa vai, mocinha?
TINA: Vou com vocês pro quarto, também quero saber da conversa. O que é biscateira?
TÂNIA: Nada que uma criança da sua idade deva saber… Toma, fica com o Lucas, você não gosta tanto? Não deixa ele acordar, hein!
(Tânia dá o filho para a irmã e entra no quarto, juntamente com Solange)
TINA: Que chatice… Por isso que odeio ser criança. O que será que elas estão conversando?
(Curiosa, Tina encosta a orelha para porta, tentando ouvir a conversa; Na outra parte da pequena sala, Maria das Graças percebe que Maria das Dores está triste)
MARIA DAS GRAÇAS: Luís, por que você não leva o Tico lá na praça? A queima de fogos já vai começar.
LUÍS: Tá bom! Vamos lá, Tico?
(Tico fica animado e sai com Luís; Maria das Graças os observa, sorrindo, e depois senta-se no sofá, com Maria das Dores)
MARIA DAS GRAÇAS: Ai, minha irmã… Ainda triste?
MARIA DAS DORES: (triste) Você não sabe o quanto, Graça… Parece que eu já morri e só o meu corpo está aqui. Estou despedaçada, parece que estou sem alguma parte de mim, sabe? Ainda não consegui superar a falta que o meu caçula me faz.
MARIA DAS GRAÇAS: Eu sei, minha irmã, mas não gosto de vê-la nesse estado… Também sofro pelo Alex, mas agora que me converti, deposito as minhas forças no Senhor. Por que você não faz o mesmo? Deus, é capaz de suprir todas as nossas dores e as nossas angústias. E o Alex, assim como todos nós, gostaria de ver um sorriso no seu rosto. É Ano Novo, minha irmã, vida nova… Vai demorar, mas o Alex voltará e vocês vão matar toda a saudade. Enquanto ele não está aqui, me dê um abraço, minha irmã…
(Tocada pelas palavras, Maria das Dores seca suas lágrimas e abraça Maria das Graças, fortemente; Elas sorriem, alegremente, e se emocionam)
————————————————————————————————————————————————–
“Aeroporto Santos Dumont”
Como é véspera de Ano Novo, todos os voos estão atrasados e as filas imensas.
(Em uma grande fila, impaciente, Bruna olha para seu relógio de pulso; Finalmente chega a sua vez e Bruna dá a sua passagem para uma das funcionárias e seu passaporte é carimbado; Educadamente, Bruna sorri e caminha para o seu avião)
BRUNA: Ufa, ainda bem… Pensei que ia sair daquela fila só em 2014 (risos). Ah… Agora sim terei o que mereço, solo norte americano, hum! Que requinte! E lá, farei a vida da Afrodite um inferno e aqui, será que a dona Marieta e o seu Ruez gostaram do presentinho que eu mandei pra ele?
(Bruna gargalha malignamente, endireita seu cachecol e embarca no avião)
————————————————————————————————————————————————–
“Mansão dos Smith – Sala de Estar”
A sala está enfeitada com fitilhos prata e dourados.
(Entediados, Ruez e Marieta estão sentados na poltrona e sofá, respectivamente; Cidinha aparece com uma bandeja com duas taças de champanhe; Marieta pega uma das taças e Ruez rejeita a outra; Submissa, Cidinha se retira; Ruez liga a televisão na Globo que passa um show musical)
MARIETA: Ai, Ruez, que desanimo… Vamos comemorar!
(Esnobe, Marieta se levanta, ergue sua taça para o alto e dá um gole em seu champanhe)
RUEZ: Comemorar? Não vejo nada para ser comemorado.
MARIETA: Como não, Ruez? Olha isso aqui! A nossa riqueza só aumenta a cada dia e somos, desde sempre, o casal mais invejável da alta sociedade carioca e além da nossa filha ter conquistado uma fama internacional tão grande… Esses não são motivos suficientes para serem comemorados?
RUEZ: (sorrindo) É você tem razão… Pela primeira vez falou algo relevante!
(Marieta fica confusa, mas sorri, dando uma bitoca em Ruez; Educado, Adamastor adentra a sala, com um grande embrulho nas mãos)
ADAMASTOR: Com licença, senhores!
RUEZ: O que faz aqui, Adamastor?
ADAMASTOR: É que deixaram esse embrulho aqui pros senhores.
RUEZ: Embrulho?
(Ruez se prepara para pegar, mas Marieta é mais rápida)
MARIETA: Deve ser presente… Mas de quem será? Não tem nem cartão. Ah, mas isso não importa… Eu só sei que estou muito curiosa para saber o quê… Mas o que é isso? Uma revista?
(Marieta pega a revista do embrulho e ao lê-la, desmaia, caindo no chão; Ruez e Adamastor se assustam)
RUEZ: (preocupado) Marieta!
(Ruez corre para acudir a esposa, mas com curiosidade, também lê a revista; Uma expressão de espanto e desgosto estampa o seu rosto e ele também desmaia, caindo no chão; Preocupado, Adamastor prontamente se põe a ajudar os patrões)
ADAMASTOR: Seu Ruez! Dona Marieta! Falem comigo, por favor! ALGUÉM! SOCORRO! AJUDEM AQUI!
(Preocupados por tantas súplicas, todos os empregados aparecem correndo e se amontoam em volta dos patrões)
CIDINHA: O que houve, Adamastor? Que gritaria é essa?
(Preocupada, Cidinha aparece)
ADAMASTOR: (aflito) Não sei, Cidinha. Deixaram um embrulho para os patrões e eu entreguei. Aí eles leram essa revista e caíram duros no chão.
CIDINHA: Revista?
(Curiosa, Cidinha pega a revista e se alegra ao ler a manchete da capa)
CIDINHA: “Depois de ter caído na passarela, a modelo em maior ascensão no momento, Afrodite Smith, declara ter aberto mão de sua carreira promissora para dedicar todo o tempo que tem à filha adotiva, uma legítima africana”… Mas que notícia maravilhosa! Finalmente a Afrodite ganhou o presente mais lindo dessa vida.
(Enquanto os outros empregados tentam acordar os patrões, Cidinha admira as fotos de Afrodite na revista)
————————————————————————————————————————————————–
Os últimos momentos de 1985 se aproximam do fim e mais um novo ano se aproxima. No quarto de seus primos, Tânia observa seu filho, enquanto ele dorme tranquilamente, e uma lágrima rola em seu rosto. Ainda no pico do morro se drogando, Quinho desaba em um choro, nunca vivido antes, arrependido de tudo que fez de errado, mas agora já é tarde: Perdeu para sempre a moça que mais o amou em todo esse mundo. Em casa, solitária, Tati chora amargamente, arrependida de ser tão volúvel e por não ter valor algum, além de ter mentido no tribunal sobre Alex, o único que conseguiu o seu amor, além de prazer. Na pracinha do Morro, Luís, Solange, Tico e Tina veem os belos fogos de artifício que estouram no céu e se abraçam, coletivamente. Na birosca, Carlos e seus “amigos de copo” bebem, arrotam, contam piadas e cantam músicas antigas. No bairro, Verinha vai ao culto de “Fim de Ano”, com os filhos e ao orar, acompanhada por toda a igreja, Naldo e Paula saem do templo, sorrateiramente e riem sapecamente, se escondendo da mãe. Ajoelhada, Sara faz a sua oração e apaixonadamente, Piolho a observa e deseja conquistá-la algum dia. De volta ao Morro, Maria das Graças e Maria das Dores se abraçam ao ouvirem o barulho dos fogos. Na laje do esconderijo, Fábio, os Moleques, envolvidos e mulheres volúveis se divertem com um improvisado Baile Charme. Na mansão, Ruez e Marieta se lamentam pela decisão de Afrodite, em controvérsia, Cidinha se alegra e comemora, longe das vistas dos patrões. Em Nova York, Afrodite admira Ana, que dorme, e pensa em Alex, deixando uma lágrima de saudade rolar sobre o seu rosto. Na prisão, Alex chora ao ouvir os fogos de artifício que estouram lá fora. A imagem se congela num tom preto-e-branco.
01 de Janeiro de 2014 
A imagem vai ganhando movimento e tornando-se colorida, lentamente.
(Mais encorpado, com uma barba cerrada e com alguns cabelos brancos, Alex se aproxima da grande e chora de alegria ao ouvir os fogos de artifício que estouram lá fora)
ALEX: Ano Novo, vida nova… Mais um ano se passou e eu aguentei esse inferno. Agora, minha vida está como um livro em branco, onde minha história será escrita novamente. 2014, um novo tempo… O ano da minha liberdade!
(Emocionado e feliz por ter cumprido toda a sua pena, Alex sorri, segurando as grades que em breve lhe serão abertas)
(A imagem se congela num tom preto-e-branco)
Continua…

Postar um comentário

0 Comentários