Um Amor e Duas Realidades – Capítulo 27




A imagem vai ganhando movimento e tornando-se colorida, lentamente.
(Mais encorpado, com uma barba cerrada e com alguns cabelos brancos, Alex se aproxima da grande e chora de alegria ao ouvir os fogos de artifício que estouram lá fora)
ALEX: Ano Novo, vida nova… Mais um ano se passou e eu aguentei esse inferno. Agora, minha vida está como um livro em branco, onde minha história será escrita novamente. 2014, um novo tempo… O ano da minha liberdade!
(Emocionado e feliz por ter cumprido toda a sua pena, Alex sorri, segurando as grades que em breve lhe serão abertas; Contente, Alex deseja “Feliz Ano Novo” para seus companheiros de cela, que depressivos, o ignoram; Alex não deixa se abater pelo desprezo deles e continua sorrindo, ansioso para ver o mundo outra vez)
“Casa de Quinho – Quarto de Kelly”
(Deitada em sua cama, Kelly, filha de Tati e Quinho, uma adolescente de uns 16 anos, está deitada na cama, lendo sua bíblia cor-de-rosa; Vaidosa, Tati adentra o quarto e se posiciona de frente do grande espelho rachado)
TATI: Por que você ainda tá assim, menina? Não vai pro baile lá na laje não? Vai tá um monte de novinho  da sua idade, boba…
KELLY: Eu que não vou perder meu tempo com esse tipo de perdição. Mãe, a senhora não acha que está muito extravagante não? A senhora já tem mais de 40 anos e se arruma feito uma piriguete.
TATI: 34, Kelly. Eu tenho 34 anos, com um corpinho de 19.
(Kelly suspira e nega com a cabeça, retornando a ler a sua bíblia; Se arrumando, Tati ajeita seu curto vestido de forma bastante provocante)
TATI: E o traste do Quinho, hein? Onde ele se meteu? O idiota nem teve a coragem de nos desejar “Feliz Ano Novo”, né? Idiota!
(Kelly deixa a sua bíblia de lado e de bruços, olha para a mãe através do reflexo do espelho)
KELLY: Mãe, posso te perguntar uma coisa? É uma coisa bem séria…
TATI: O que quê foi, Kelly? Pergunta logo que eu tô com pressa.
(Não sabendo como perguntar, Kelly tenta encontrar a melhor maneira para dizer)
KELLY: (duvidosa) Mãe, o Quinho é mesmo o meu pai?
(Espantada com a pergunta, Tati para se arrumar e vira-se para a filha)
TATI: Que pergunta é essa agora, Kelly? Eu, hein! Enlouqueceu, foi?
KELLY: É que a senhora nunca se refere a ele como meu pai, e sim como “traste”, “idiota”, “imbecil”.
TATI: (nervosa) Se xingo ele dessas coisas é porque ele merece, fique você sabendo! Você não vai mesmo pro baile? Não? Então fica aí presa nesse quarto igual uma velha encalhada… Já estou farta!
(Completamente alterada, Tati sai do quarto, batendo a porta fortemente; Não entendendo o jeito da mãe, Kelly vai até a janela e observa os coloridos fogos de artifício que estouram no céu)
KELLY: Nossa, como a minha mãe ficou estranha depois dessa minha pergunta… Por que será? Que estranho! Sorte teve o meu tio que saiu desse inferno e está vivendo uma vida de santidade… Queria eu ter a mesma oportunidade… Esse morro não é pra mim.
(Passando os dedos por entre seus longos e cacheados cabelos, Kelly cantarola uma canção gospel e melancólica, observa os fogos queimarem no céu)
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“Igreja Deus Conosco”
(Ao escutarem os fogos de artifício, pastor Jonas encerra a oração e todos se levantam, cumprimentando uns aos outros; Logo após tem a confraternização e todos comem e bebem, felizes)
VERINHA: Ué, cadê a Paula e o Naldo? Eles disseram que viriam… Ah, não acredito que me enganaram novamente. Não acredito! Esses meus filhos caíram mesmo no mundo da perdição… Misericórdia!
(Inconformada, Verinha bufa e ao olhar para o lado, vê pastor Jonas cabisbaixo; Preocupada, ela deixa sua fatia de bolo sobre o banco e se aproxima do pastor)
VERINHA: A paz do Senhor Jesus, pastor do Jonas… Feliz Ano Novo!
JONAS: (triste) A paz do Senhor, irmã Vera… Feliz Ano Novo pra senhora também.
(Educada, Verinha sorri)
VERINHA: Pastor, desculpa ser indiscreta… Mas eu percebi que o senhor está muito triste. Ainda sofre pela partida da irmã Dora, né?
(Pastor Jonas tira seus óculos e começa a chorar)
JONAS: Você não sabe o quanto sinto, irmã… Eu sei que ela foi para os braços do Senhor, mas mesmo assim eu ainda sofro muito. A Dora era tudo pra mim… Sem ela eu estou incompleto!
(Precisando de consolo, pastor Jonas encosta a sua cabeça em Verinha e chora mais ainda; Tocada pelo momento triste, Verinha faz cafuné na cabeça de Jonas e também fica triste; De longe, umas fofoqueiras cochicham uma com as outras, achando a situação estranha; Do outro lado do templo, Sara vê a cena e sai correndo; Piolho a olha e vai atrás; Sara chega ao pátio da igreja e assua o seu nariz, controlando-se para não chorar mais; Calmamente, Piolho chega por detrás e toca em seu ombro)
PIOLHO: Sara, o que houve? Por que você está chorando?
SARA: Ah, Piolho… Estou com saudades de minha mãe…
(Falando, Sara vira-se e abraça Piolho, fortemente, ainda chorando muito)
PIOLHO: Não fica assim, Sara… Ela está num lugar muito melhor do que a gente. E tenho certeza que ela gostaria que você estivesse bem. Feliz!
(Assuando o nariz, Sara vai se afastando lentamente do abraço)
SARA: Eu sei, meu amigo, mas eu não consigo. Depois da partida dela, eu me sinto tão sozinha…
(Num curto minuto de silêncio, Piolho pega a mão de Sara)
PIOLHO: Você não está sozinha, Sara. Você tem o seu pai… E também tem a mim.
(Ao ouvir tal coisa, Sara se acentua; Piolho leva a sua mão ao rosto de Sara e o alisa carinhosamente; Lentamente, Piolho vai fechando seus olhos e se prepara para beijá-la, mas Sara coloca a mão na boca, impedindo-o)
SARA: Não, Piolho…
(Prontamente, Piolho abre seus olhos e Sara sai correndo, ainda chorando; Com tristeza, Piolho a observa)
PIOLHO: Até quando, Senhor? 28 anos se passaram e ela não quer nada comigo… Será que sou tão feio assim?
(Sofrendo de amor, Piolho pressiona a bíblia contra seu peito e fica com o olhar triste)
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“Esconderijo de Fábio – Laje”
(Fábio, com seu fuzil na mão, dança junto aos Moleques e mulheres vulgares ao som de um batidão proibido)
FÁBIO: “Todo Poderoso” é o poder, p**** !!!
(Gargalhando, Fábio solta uma rajada de tiros para o céu e bebe cerveja de latinha, ainda dançando; Alterada, Tati chega à laje e esbarra em uma mulher, que a enfrenta; Tati não da ideia e pega uma bebida num galão azul; Fábio vê Tati e se aproxima dela)
FÁBIO: A minha gostosa chegou… Tava com saudade, piranha!
(Brutamente, Fábio agarra Tati e beija a sua nuca)
TATI: Me larga, Fábio… Hoje não tô boa.
(Relutante, Tati empurra Fábio longe, irritando-o)
FÁBIO: É “Todo Poderoso”, eu já falei… E nenhuma mulher fala assim comigo não, ainda mais uma piranha. Eu te quero agora e vou ter.
(Canastrão, Fábio sorri e puxando Tati pelos cabelos, a arrasta até o quarto imundo do esconderijo; Fábio tranca a porta e Tati se apavora)
TATI: Me tira daqui, seu idiota!
(Tati tenta abrir a porta e Fábio a joga na cama)
FÁBIO: Fica quietinha aí, sua vagabunda… Que agora você vai ter o que merece.
(Safado, Fábio pula na cama e agarra Tati, rasgando as suas roupas)
TATI: Me solta, Fábio, eu não quero! Me solta!
FÁBIO: Só depois que você me satisfazer!
(Fábio beija Tati, que morde os seus lábios)
FÁBIO: Ai, olha o que você fez, sua piranha!
(Fábio passa o dedo no seu beiço e percebe que está sangrando)
TATI: Isso é pra você aprender a tratar uma mulher, seu grosso! Por isso que nunca chegará aos pés do Alex, aquele que você sempre invejou.
FÁBIO: Cala essa sua boca, sua piranha… Eu já falei pra não quero que toque no nome desse otário.
TATI: Otário é você, Fábio! Você pode até quer, mas nunca chegará aos pés do Alex… Eu só me arrependo de ter sido tão boba e mentido naquele tribunal por que você mandou. O Alex sim era um homem de verdade… E você, você não é nada, nunca passará de nada. Você é e sempre será um merdinha. O-T-Á-R-I-O!
(É notório o ódio estampado na cara de Fábio e sarcástica, Tati sorri olhando para ele)
TATI: Não tem o que falar, né, Fábio? Até você sabe que o Alex é muito você. Tanto como pessoa, como homem, como macho. Ah, falando nisso, nem pra me comer direito você serve, fique sabendo. Você é sim um merd…
(Antes que Tati possa terminar, Fábio dá um forte tapa na cara de Tati, fazendo-a cair; Transtornado, Fábio levanta Tati, puxando-a pelo cabelo, agredindo-a covardemente; Tati grita de dor, mas Fábio não tem piedade alguma; Até que Fábio cansa e Tati está toda machucada)
FÁBIO: (ofegante) Isso é pra você aprender a como se trata o “Todo Poderoso”. E você vai pagar, sua vagabunda… Vai pagar por todas essas idiotices que me falou aqui. Você, aquele bosta do seu marido e a sua filha… Vão tudo sentir a fúria do “Todo Poderoso” aqui.
(Sorrindo malignamente, Piolho aponta seu fuzil para Tati, que o encara, seriamente)
TATI: Faça o que quiser comigo ou com o Quinho, aquele imbecil, mas deixa a minha filha de fora dessa história, hein! Se você encostar um dedo na minha filha, vai sentir a minha fúria… Ouça o que estou te dizendo!
FÁBIO: (debochado) Ui, que medo!
(Fábio gargalha e Tati continua séria, encarando-o; Tati se recompõe, abre a porta e sai, apressadamente; Com ódio de tudo o que ouviu de Tati, Fábio senta-se na cama)
FÁBIO: (amargurado) Eu sou melhor do que o Alex… Sou muito melhor do que aquele otário do Alex.
(Emburrado, Fábio sai do quarto e bate a porta, fortemente, extravasando toda a sua raiva)
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“Casa de Maria dos Prazeres – Quarto”
(As explosões dos fogos de artifício se misturam com os gemidos de prazer e o ranger da cama velha: Bené e Maria dos Prazeres fazem sexo, pois independente da idade, a fogosidade é a mesma)
BENÉ: (excitado) Ah, Graça… Você tá me deixando louco…
(Imediatamente, Maria dos Prazeres para o ato e se afasta)
MARIA DOS PRAZERES: Do que você me xingou, Bené? Você me chamou de quê? De Graça? Eca!
BENÉ: Desculpa, Prazeres… Eu me confundi. Vem, vamos continuar, estava tão gostoso. Isso não vai acontecer de novo.
MARIA DOS PRAZERES: Não vai se repetir mesmo, sabe por quê? Sabe? Por que eu vou fazer greve.
BENÉ: O quê? Greve? Mas… Você nunca nega fogo.
MARIA DOS PRAZERES: Sim, greve! E sabe até quando? Até o Carnaval. Agora fica aí com a Gracinha nos seus pensamentos, que depois dessa, prefiro ir assistir o Show da Virada. Rum!
(Maria dos Prazeres encara Bené, enrola-se no seu roupão e caminha em direção à sala)
BENÉ: (lamentando) Greve? Até o Carnaval?
(Com as mãos na cabeça, Bené deita na cama e fica pensativo)
BENÉ: Graça, Graça, por que você ainda não saiu da minha cabeça, mulher? Por quê?
(Bené tenta relutar contra seus próprios pensamentos, mas a verdade é que ele ainda ama e nunca esqueceu Maria das Graças)
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A madrugada passa e o primeiro dia do ano chega. É fim de tarde e o Sol já está quase se despedindo do céu.
“Casa de Maria das Dores”
(Maria das Graças e Maria das Dores se afastam de um demorado abraço)
MARIA DAS DORES: Ah, você já vai, minha irmã? Por que não passam mais um dia aqui?
MARIA DAS GRAÇAS: Não dá minha, irmã… Eu e a Tânia temos compromisso na igreja e nesse domingo é a nossa cantina e nós temos que preparar alguma coisa.
MARIA DAS DORES: Ah, que pena… Mas volta pra receberem o Alex, hein! Ele sairá da cadeia a daqui alguns dias.
(Aquela mulher triste de 28 anos atrás não existe mais e Maria das Dores sorri, alegre com a breve liberdade do filho caçula; Maria das Graças se alegra com a notícia)
MARIA DAS GRAÇAS: Ah, minha irmã, que ótima notícia… Estou muito com a liberdade do Alex. Claro que viremos e faremos uma festinha surpresa pra ele. Você está até mais feliz, né? Dá pra perceber!
MARIA DAS DORES: (radiante) Sim, muito! E você sempre me apoio, né, minha irmã? Sou muito grata por tudo o que sempre fez por mim.
(Emocionada, Maria das Graças abraça a irmã e todos sorriem, olhando; Tânia segura o braço de Lucas, seu filho, e sorri; Tina olha para o seu relógio de pulso e quebra o clima de despedida)
TINA: Vamos mãe, já está ficando tarde. Estou morrendo de saudades da minha bolinha e tenho que vigiar o Naldo… Porque aquelas mulheres do bairro são tudo umas piriguetes.
MARIA DAS GRAÇAS: Tina, eu já falei pra não chamar a menina desse jeito, mas que coisa! E quem diria, né, Das Dores? Aquela menininha chaaata, hoje  está essa mulherão. Chata como antes…
(Tina faz careta e todos riem)
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(Maria das Graças, Tico, Tina, Tânia e Lucas já estão indo para casa e Maria das Dores, Luís e Solange os acompanham até o ponto de ônibus; No caminho, eles se deparam com seu Messias, que vinha na direção oposta)
MESSIAS: Oi, bom dia… Como estão? Feliz Ano Novo para todos!
(Educadamente, todos sorriem e retribuem)
MARIA DAS DORES: Messias, lembra da minha irmã mais nova… A Graça? Ela venho passar o ano com a gente.
(Maria das Graças sorri e seu Messias a olha, admirado)
MESSIAS: Claro que me lembro, como poderia esquecer esse sorriso encantador… Como passa Graça?
(Delicadamente, Seu Messias beija a mão de Maria das Graças, que sorri, envergonhada; Não entendendo tamanha intimidade, Tânia, Tina e Tico se entreolham)
MARIA DAS GRAÇAS: Vou muito bem, obrigada!
(Olhando-se nos olhos, Maria das Graças e seu Messias sorriem; Tina se sente incomodada e resolve intervi)
TINA: (impaciente) Vamos logo, mãe… Eu também tenho meus compromissos. 
MARIA DAS GRAÇAS: Ih, vamos… Parece que até que está na forca! (risos) Foi um prazer revê-lo, Messias.
MESSIAS: O prazer foi todo meu, Graça!
(Novamente, seu Messias beija a mão de Maria das Graças, deixando-a corada; Tina puxa Maria das Graças pela mão e ela sai olhando para seu Messias, que os observa, com um sorriso nos lábios; Rumo ao ponto, todos caminham novamente)
TINA: Mãe, saiba que não fui com a cara desse velho… Ele estava dando em cima da senhora na maior cara de pau.
MARIA DAS GRAÇAS: Ai, Tina, deixe de história… Ele é só um velho amigo da família.
(Com olhar saudoso, Maria das Graças sorri)
MARIA DAS DORES: Meninas, eu vou falar… O seu Messias, ele, ele foi o primeiro namoradinho da mãe de vocês… Sabiam?
(Sorrindo, Tânia e Tico se entreolham; Tina não gosta)
MARIA DAS GRAÇAS: (envergonhada) Das Dores!!
(Maria das Dores dá um tapinha no braço de Maria das Dores, que ri; Um ônibus se aproxima e Maria das Graças o nota)
MARIA DAS GRAÇAS: O ônibus… Tchau, minha irmã!
(Maria das Graças e Maria das Dores se afastam pela última vez; Todos se despedem; Maria das Dores, Luís e Solange se aproximam; Tico faz sinal e o ônibus para; Maria das Graças é a primeira a subir e por causa das bolsas, não consegue ver o motorista)
MARIA DAS GRAÇAS: Boa tarde, motoris… Bené?
(Maria das Graças se espanta ao ver que o motorista é Bené)
BENÉ: (surpreso) Graça?
(Bené sorri e Maria das Graças o encara)
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“The Plaza Hotel – Recepção”
(Frederick está na recepção e ao olhar se depara com Bruna, que chega trajando um enorme chapelão e casaco de pele de urso albino)
FREDERICK: Bruna, que saudade… Como você demorou!
(Frederick abraça Bruna, que lhe dá a sua mala)
BRUNA: Se estava com tantas saudades assim por que não foi me buscar no aeroporto?
FREDERICK: É que eu estava muito ocupado. Vida de modelo internacional não é fácil, sabia?
BRUNA: Sei…
(Bruna sente um cheiro estranho e percebe que vem de Frederick)
BRUNA: (fungando) Frederick, que cheiro é esse?
FREDERICK: Cheiro? (Frederick cheira a sua roupa e percebe) Ah, deve ser o chá de ervas que eles dão aqui.
BRUNA: Ah, entendi! Que eu saiba, esse tipo de erva não é nada elegante, hein! Deveriam processar esse hotel aqui. (risos)
(Frederick se sente incomodado)
FREDERICK: Deu pra ser piadista agora, Bruna? Por que não trabalha em um circo? Acho que será mais proveitoso.
(Percebendo que Frederick está nervoso, Bruna vai parando de rir)
BRUNA: Tá, calma, não vou mais falar dos seus chás de ervas. E aí, a Afrodite já caiu laço?
FREDERICK: Que nada! Ainda está enrolando para responder o meu pedido de casamento, acredita?
BRUNA: Frederick, eu não acredito! Eu venho aqui todo ano e essa história de casamento ainda não sai dos seus planos? Meu amigo, você está sendo mais cozinhado do que a Olga de “Chocolate com Pimenta”, hein, que decadência!
FREDERICK: Olga? Quem é essa? Se for de alguma novela pode esquecendo, pois não perco tempo com essa bobeira. Você veio aqui pra me ajudar ou pra me depreciar? Se for a segunda opção, eu faço questão de pagar a sua passagem de volta pro Brasil, aquele lixo de país.
BRUNA: Até o Alex já caiu na minha e a Afrodite se fazendo de durona. Venha, meu amigo, eu tenho uma ideia maravilhosa pra Afrodite dizer “sim” agora mesmo.
FREDERICK: (curioso) Qual?
BRUNA: Vem, eu te conto pelo caminho.
(Bruna puxa Frederick pelo braço e caminha em direção ao elevador, contando-lhe o seu plano)
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(Em sua suíte, Afrodite, agora uma mulher madura, está sentada na cama, olhando para a velha fotografia que guardou de Alex; Afrodite passa a sua delicada mão sobre a fotografia e uma lágrima de saudade rola pelo seu rosto tristonho)
ANA: Você ainda o ama muito, né?
(Falando, Ana aparece e senta-se ao lado se Afrodite, que continua a admirar a foto em tom séptico)
AFRODITE: Você não sabe o quanto, minha filha… Mesmo depois de quase 30 anos, o amor que sinto por ele é o mesmo.
ANA: Que lindo, mammy… Então porque você não volta para o Brasil, pra ir atrás dele?
(Afrodite se acentua e Ana sorri, olhando para ela)
AFRODITE: O quê? Voltar para o Brasil?
ANA: (sorrindo) Uhum!
AFRODITE: Mas…
(Bruna e Frederick aparecem, atrapalhando a conversa das duas)
BRUNA: (surpresa) Surpresa!
(Afrodite se assusta e deixa a fotografia cair; Frederick percebe e quando se prepara para pegar, Ana faz isso antes)
AFRODITE: Bruna… Quanto tempo!
BRUNA: Ah, Afrodite…
(Bruna abraça Afrodite)
BRUNA: Eu estava com tantas saudades, minha amiga.
(Bruna se afasta do abraça e segura as duas mãos de Afrodite)
AFRODITE: Eu também!
(Falsamente, Bruna sorri)
BRUNA: Afrodite, vim para visitá-los, mas também vim para o seu noivado com o Frederick, minha amiga. Já está na hora!
AFRODITE: Mas eu ainda não me decidi, Bruna… E o Frederick concordou em esperar, mesmo que demorasse. Não é, Frederick?
(Apaixonado, Frederick concorda com a cabeça)
BRUNA: Eu sei, mas o que te impede, Afrodite?
(Afrodite fica triste e se afasta)
AFRODITE: Prefiro não falar, Bruna…
BRUNA: Mas como sou sua melhor amiga, já até sei a resposta. É por causa do Alex, né? Mas esqueça aquele monstro, ele não te merece, minha amiga. Ele não te merece! Falo isso porque sei o quanto aquele Alex é um monstro.
AFRODITE: (preocupada) Por que você está falando dessa maneira, Bruna… O Alex te fez alguma coisa grave?
BRUNA: (falsa) Ah, Afrodite, prefiro não te contar… Você vai sofrer muito, minha amiga. Esquece, esquece o que eu disse.
AFRODITE: Não, Bruna! Se o Alex te fez alguma coisa grave, eu preciso saber.
(Bruna suspira e fica cabisbaixa; Ana estranha e aflita, Afrodite aguarda uma resposta)
BRUNA: (mentindo) Eu nunca te falei isso por vergonha, minha amiga… Mas, o Alex não é aquele santinho que você sempre pensou. Assim que ele ficou preso, há 28 anos, eu fui visita-lo, pois você sabe o quanto sou boa, né? Eu não gosto de ver ninguém sofrendo, nem os meus piores inimigos. Enfim, eu vi a reportagem da prisão dele na televisão e fui visita-lo para ver se era verdade. E na visita, ele agiu muito estranhamente. Ele começou a sussurrar coisas estranhas no meu ouvido e me agarrou. Eu tentei fugir, me libertar, mas como ele era mais forte, ele me dominou e… Ele, ele… (suspiro sofrido) Ele… Ele abusou de mim, Afrodite. E disse que sempre quis fazer o mesmo contigo, mas tinha que ser da maneira mais romântica pra você não desconfiar… Ele conseguiu te ter, minha amiga?
(Chocada com a falsa história de Bruna, Afrodite fica boquiaberta e sente uma pontada no coração; Ana desconfia de tudo isso e Frederick sorri, discretamente)
AFRODITE: Então… O Alex… O Alex é um monstro. Meu Deus, como pude confiar nessa pessoa e…
ANA: Mammy, não se deixa levar pelo momento… Quem garante que essa história não é tudo uma invenção?
BRUNA: Eu garanto! Eu nunca mentiria uma coisa tão grave como essa, mocinha!
(Bruna e Ana se encaram por alguns segundos; Em seguida, com olhar piedoso, Bruna retorna a olhar para Afrodite, que está chorando)
BRUNA: Afrodite, você acredita em mim, né, minha amiga? Eu jamais mentiria uma coisa tão grave como essa.
(Afrodite pega a mão de Bruna e olha no fundo dos seus olhos)
AFRODITE: Claro que acredito em você, Bruna. Você seria incapaz de mentir uma coisa dessas… Já o Alex… O Alex já me enganou tantas vezes, que nem tenho mais como confiar nele.
(Bruna sorri; Afrodite larga as mãos de Bruna, seca suas lágrimas e olha para Frederick, se aproximando dele)
AFRODITE: Frederick, você provou que é um homem digno da minha confiança. Nesses 28 anos que vivemos praticamente juntos, você foi amigo, companheiro, respeitador e, além de tudo, muito paciente, uma virtude que poucos têm. Eu te fez esperar tanto, né? Mas agora já tenho uma resposta para te dar. Eu pensei, revi os conceitos e… Frederick, eu aceito ser sua noiva. Aceito o seu pedido de casamento.
“Diante da mentira contada por Bruna, de todas as mágoas que se recordou do passado e de tanto afastamento, Afrodite aceitou ser noiva de Frederick. Apaixonado que é, Frederick sorri alegremente e beija Afrodite… Bruna comemora e Ana a olha, desconfiada. Mesmo beijando Frederick, Afrodite chora, pois ainda não esqueceu e, apesar de tudo, ama Alex”
(A imagem se congela num tom preto-e-branco) 
Continua…
NO CAPÍTULO DE AMANHÃ: Alex são da prisão e Afrodite deseja voltar ao Brasil… Vocês não vão perder, né?  

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