Um Amor e Duas Realidades – Capítulo 28

“Diante da mentira contada por Bruna, de todas as mágoas que se recordou do passado e de tanto afastamento, Afrodite aceitou ser noiva de Frederick. Apaixonado que é, Frederick sorri alegremente e beija Afrodite… Bruna comemora e Ana a olha, desconfiada. Mesmo beijando Frederick, Afrodite chora, pois ainda não esqueceu e, apesar de tudo, ama Alex”
(Triste, Afrodite se afasta do beijo e Frederick sorri, olhando para ela; Comemorando, Bruna sorri e Ana a encara)
FREDERICK: Nossa, Afrodite, essa foi a melhor notícia que eu recebi em toda a minha vida… Você não sabe o quanto me deixou feliz com essa resposta.
(Somente por educação, Afrodite dá um sorrisinho tímido e Frederick não consegue conter a sua felicidade)
FREDERICK: E para comemorar… Vamos fazer um magnífico jantar! Com direito à lagosta, caviar, champanhe e todas as comidas chiques que conhecemos.
(Bruna se anima e Afrodite demonstra insatisfação)
AFRODITE: Ah, Frederick, você vai ter que me desculpar, mas melhor deixar pra outro dia… É que eu estou com uma dorzinha de cabe..,
BRUNA: Nada disso, Afrodite… Não é justo! Você faz o coitado do Frederick esperar por quase 30 anos e não aceita nem um jantar? Isso não pode, querida! Venha, eu te ajudo a escolher um belo vestido e fazer a maquiagem.
AFRODITE: (triste) Mas eu…
BRUNA: Vamos, amiga… Farei você ficar ainda mais linda. Ai, ai, ai, hein!
(Bruna puxa Afrodite para o quarto, que vai contra vontade; Frederick continua contente, mas olhar pra Ana, ela rapidamente desvia o olhar, deixando claro que não concorda com esse noivado; Frederick não liga e continua contente)
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“Enquanto isso no Brasil…”
(Maria das Graças não gosta de saber que Bené é o motorista e ele se surpreende ao vê-la)
MARIA DAS GRAÇAS: Eu vou descer…
(Maria das Graças se prepara para descer, mas Bené se levanta do seu lugar e a segura pelo braço; Tânia, Lucas, Tina e Tico esticam o pescoço para verem o que está acontecendo)
BENÉ: Que isso, Graça? Não precisa… Eu deixo vocês entrarem por trás, não precisam pagar.
MARIA DAS GRAÇAS: O quê, Bené? E você acha que eu preciso de algum favor seu? Eu vou descer, pois não quero ficar no mesmo ambiente que você… Pode ser contagioso.
(Essas palavras ferem Bené, deixando-o triste)
BENÉ: Graça…
PASSAGEIRO: (gritando) Bora logo, motorista… Tem seu tempo não!
(Um passageiro levanta reclamando e todos os outros o acompanham; Bené olha para os passageiros e em seguida para Maria das Graças, que continua sendo)
BENÉ: Graça, eu…
MARIA DAS GRAÇAS: Nem mais uma palavra, Bené. Vai fazer o seu trabalho, eu não quero mais atrapalhar. Já pode me soltar, por favor!
(Triste, Bené solta o braço de Maria das Graças, que o encara e desse do ônibus; Com os olhos marejados, Bené fica cabisbaixo, olhando para o lado)
PASSAGEIRO: (gritando) Bora logo, cassete!
(Impaciente, o mesmo passageiro se levanta e arremessa um copo de “Guaraná Natural” na cabeça de Bené; Irritado, Bené põe a mão na cabeça, olha para o copo caído no chão, olha para o passageiro, senta-se no seu lugar e arranca com o ônibus; Todos comemoram; Com ódio, Bené acelera com o ônibus, desconfortando todos os passageiros, que reclamam, mas ele não dá atenção)
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(No ponto de ônibus, Maria das Graças põe as suas bolsas no chão e cruza os braços, emburrada)
TINA: Mãe, a senhora não podia ter feito isso… Agora o outro ônibus vai demorar. E sendo o nosso pai, a gente ainda ia ganhar carona.
MARIA DAS GRAÇAS: Carona… E a gente lá precisa de carona do pai de vocês? Não quero nem olhar pra fuça daquele lá…
TÂNIA: Mas não é justo com a gente, mãe? Marido não é pra sempre, mas pai é… E ele continua sendo o nosso, a senhora gostando ou não.
(Tina e Tico concordam; Não gostando, Maria das Graças continua com a cara emburrada e os braços cruzados; Do outro lado da rua, Quinho os vê e força a vista para poder ver melhor)
QUINHO: Tânia e a família toda… Aquele grandão lá é o meu filhão? Nossa, como cresceu…
(Sorrindo, Quinho atravessa a rua e se aproxima)
QUINHO: Filho…
(Todos se viram e indignados, olham para Quinho, exceto Lucas, que sorri)
QUINHO: Nossa, filho, como você cresceu… Antes mesmo era um moleque, agora tá esse homem feito.
(Quinho e Lucas sorriem um para o outro e Tânia observa, indignada)
QUINHO: Dá um abraço de Ano Novo aqui no pai, filhão…
(Lucas se prepara para abraça Quinho, mas Tânia o impede, puxando-o para perto de si)
TÂNIA: Lucas, eu não vou deixar que você abrace esse monstro.
(Acuado, Lucas fica triste)
QUINHO: Por que não, Tânia? É Ano Novo e eu tenho o direito de pelo menos abraçar o meu filho, você não acha?
TÂNIA: Não acho não… Sabe por quê? Por que você nunca quis saber do menino, nunca o procurou… Não participou da vida dele desde o começo e agora que ele está crescido, bonito, você quer fazer presença? É bem típico seu mesmo, querer aparecer. No meu filho você não encosta o dedo. Ele pode ter 30, 40, 80 anos, mas você nunca chegará perto dele, está me ouvindo? Agora vamos sair daqui… Vamos, meu filho! Certas pessoas têm que ser evitadas e esse homem é uma delas.
 (Com repulsa, Tânia encara Quinho e puxa Lucas para longe, que triste, sai olhando para o pai, que fica com lágrima nos olhos; Seriamente, Maria das Graças encara Quinho e se afasta, de braços dados com Tico e Tina; Triste pelo momento, Quinho controla o seu choro e sobe ao pico do morro, onde se drogará novamente; No outro ponto de ônibus, Tânia e Lucas chegam e param; Maria das Graças, Tina e Tico chegam depois)
MARIA DAS GRAÇAS: Tânia, que papelão… Discutindo no meio da rua feito uma mundana como fica a sua reputação de evangélica?
TÂNIA: Ah mãe, esse idiota do Quinho me tirou do sério… Agora que vim dar uma de paizão? Ah, faça-me favores, né?
MARIA DAS GRAÇAS: Ah, mas quem sabe ele não esteja arrependido e queira acertar? Você queria falar com ele, né, meu neto querido?
(Sorrindo, Lucas se prepara para falar, mas Tânia o corta)
TÂNIA: Ah, não, mãe, até a senhora? Engraçado que quando o assunto é o meu pai a senhora é totalmente inflexível…
MARIA DAS GRAÇAS: O seu pai é diferente.
TÂNIA: Diferente? Diferente como?
MARIA DAS GRAÇAS: Diferente… Diferente sim! Ah, Tânia, não venha querer me tirar da graça divina, por favor!
(Em total discordância, Maria das Graças e Tânia se encaram e ficam uma de costas para a outra, com os braços cruzados e emburradas; Tina e Tico se entreolham e prendem o riso; Lucas fica triste com essa situação, pois apesar de tudo queria abraçar o pai, pelo menos uma vez na vida)
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“Nova York – The Plaza Hotel”
A noite em Nova York é deslumbrante. Pequenos flocos de neve se misturam com as brilhantes luzinhas que ainda restaram da época Natalina. A paisagem parece um cartão-postal de tão linda que é.
(No refinado restaurante do hotel, Ana e Frederick estão sentados à mesa; Entediada, Ana observa Frederick brincando uma taça e se espanta com tamanha infantilidade; Sorrindo, Bruna aparece e senta-se à mesa, ao lado de Frederick)
BRUNA: A Afrodite já vem!
(Frederick se anima e Ana não acredita no que a mãe está fazendo)
BRUNA: Frederick, a sua gravata está torta. Deixa que eu a ajeito!
(Ao ajeitar a gravata de Frederick, Bruna olha no fundo dos cristalinos olhos azuis de Frederick e a reprimida paixão de adolescente que sentia por ele arde em seu peito; Ana percebe o clima e rapidamente, Bruna se aparta de Frederick e controla seus sentimentos mais íntimos; Com um belíssimo e longo vestido vermelho, um coque-francês e uma maquiagem suave, Afrodite aparece e se aproxima da mesa)
FREDERICK: (abobado) Afrodite, como você está linda… Parece uma princesa!
(Apenas por educação, Afrodite sorri, pois ainda está triste por dentro; Encantado, Frederick se levanta, beija a mão de Afrodite, que senta-se à mesa)
FREDERICK: Afrodite, você está muito, muito, muito, muito linda… A mulher mais perfeita que já vi nesse mundo. Sua beleza é fascinante!
(Sorrindo, Afrodite agradece tantos elogios e Bruna sente uma pitada de ciúmes)
BRUNA: Bom, então vamos comer? Eu estou morrendo de fome!
ANA: (resmungando) Nossa, que falta de classe…
(Ana bebe a água que estava em sua taça; Bruna põe suas mãos sobre a mesa e olha para Ana)
BRUNA: Disse alguma coisa, queridinha?
ANA: Não, só estava pensando alto.
(Bruna e Ana continuam se olhando, de forma pejorativa; Afrodite percebe que tem alguma coisa de errado e olha para as duas; Frederick se levanta e bate com uma faca na taça)
FREDERICK: Antes do jantar, gostaria de ir logo ao assunto. Não sou muito bom com as palavras, não sei muito me declarar, mas farei um esforço… Por você, Afrodite!
(Sem estímulos, Afrodite sorri, forçadamente, e bebe um gole d’água)    
FREDERICK: Afrodite, desde quando eu te vi pela primeira vez, ainda criança, eu já me apaixonei por você… Claro, quem não se apaixonaria, né? Uma deusa como você, todos olham. (risos) Eu cresci, você também, e com isso, meu amor por você só cresceu, dia após dia, sempre te amei mais e mais… E se esperei quase 30 anos para ouvir o seu “sim”, tudo foi a prova do amor que sinto por você. (De dentro do bolso do seu paletó, Frederick tira uma mimosa caixinha vermelha de veludo) Afrodite, esse anel é a prova do quanto o meu amor por você vale… Uns 10 mil dólares, aproximadamente. (risos)
(Vaidoso, Frederick tira um anel de ouro cravejado de diamantes e põe no dedo anelar da mão direita de Afrodite; Invejosa, Bruna pega a mão de Afrodite e admira a joia)
BRUNA: Que anel lindo… Um dia ainda vou ter um desses.
(Envergonhada, Afrodite tira sua mão e a põe sobre a outra, a esquerda; Bruna se rói de inveja; Frederick pega a sua taça e a ergue, em cima da mesa)
FREDERICK: Agora eu proponho um brinde… Um brinde a mim, a Afrodite a nossa felicidade.
BRUNA: (pensamento) E ao dinheiro que conseguirei com tudo isso.
(Um sorriso malicioso surge no rosto de Bruna e ela também ergue a sua taça; Relutante, Ana ergue a sua taça e triste, Afrodite faz o mesmo; Ao som do bater de taças, Afrodite eleva seus pensamentos ao passado, quando ainda era fez com Alex e uma tristeza fica evidente em seu rosto)


“Rio de Janeiro, Zona Oeste”
A famosa Serra da Grota Funda está com pouca iluminação e bastante movimentada como sempre.
(Pilotando o ônibus, Bené desce a Serra em alta velocidade; Com o desprezo que recebeu de Maria das Graças pela traição e a vida de aparência que vivem com Maria dos Prazeres ao longo de todos esses anos, fazem com que Bené sofra de remorso pela tentação que teve no passado ao largar a feliz família que tinha por um curto momento de prazer; Dirigindo, Bené chora bastante e mal consegue enxergar a pista; Ao som de um triste instrumental, Bené tira uma de suas mãos para secar suas lágrimas e ao prestar atenção na pista, arregala os olhos, amedrontado; Bené tenta desviar, mas acaba chocando-se com outro ônibus que vinha na direção contrária; Um grave acidente acontece e alguns passageiros sofrem uma forte pancada; O vidro frontal se quebra, despedaçando-se completamente sobre Bené, que desmaia sobre o volante, enquanto muito sangue escorre da sua cabeça)  
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(Em casa, Maria dos Prazeres recebe a notícia do acidente e um sorriso brota em rosto; Em seguida, ela senta-se no sofá, sorrindo)
MARIA DOS PRAZERES: O Bené sofreu um acidente e está em estado grave… Melhor notícia não poderia receber nesse Ano Novo! Sei que não deveria comemorar, mas com o dinheiro que entrará da indenização, eu seria capaz de soltar fogos de artifício…
(Maria dos Prazeres comemora batendo palma e mexendo os pés)
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“Dias Depois”
(Maria dos Prazeres sai do hospital e se depara com Maria das Graças, que está chegando)
MARIA DOS PRAZERES: Posso saber o que veio fazer aqui, Graça? Você não é bem-vinda!
MARIA DAS GRAÇAS: Vim visitar o Bené, que apesar de tudo, é pai dos meus filhos… Além do mais, eu preciso vê-lo nesse momento tão difícil, preciso dar o meu perdão a ele.
(Debochada, Maria dos Prazeres ri)
MARIA DOS PRAZERES: E quem disse que ele precisa do seu perdão? Se quer ir, vá… Mas pode tirando o olhinho da indenização tá, é só isso o que eu digo.
(Maria das Graças parece não acreditar no que ouviu e Maria dos Prazeres a encara e ia saindo)
MARIA DAS GRAÇAS: Então você só está com o Bené por causa do dinheiro, né, Prazeres? É bem o seu tipo mesmo, interesseira… Saiba que não quero nada do Bené, nada! E dinheiro seria a última coisa, fique você sabendo.
MARIA DOS PRAZERES: Menos mal, assim não tenho concorrência. Bom, já dei o meu aviso, agora deixa eu indo… Tchau, irmãzinha.
(Maria das Graças encara Maria dos Prazeres, que sorri falsamente, e vai embora; Indignada, Maria das Graças nega com a cabeça)
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(No quarto de hospital, Bené, todo intubado, dorme sobre uma maca hospitalar; Lentamente, Maria das Graças entra e se aproxima de Bené; Os olhos de Maria das Graças enchem-se de lágrimas ao ver os graves ferimentos pelo corpo do ex-marido; Delicada, Maria das Graças se prepara para passar a mão no rosto de Bené, quando ele acorda)
BENÉ: (feliz) Graça, você veio…
(Ainda fraco, Bené sorri ao ver Maria das Graças)
MARIA DAS GRAÇAS: Seus filhos e seus netos não puderam vir hoje, pois estão preparando a festinha do Alex lá no Morro… Ele sairá hoje da prisão. Eles mandaram lembrança e disseram que virão em breve.
(Alegre, Bené sorri)
BENÉ: Mas já fico feliz que você esteja aqui.
(Com dificuldade, Bené pega a mão de Maria das Graças, que o olha, acentuada)
BENÉ: (fraco) Graça, você não sabe a saudade que estou de você, dos nossos filhos e da vida que a gente levava juntos lá na nossa casinha. Você não sabe o quanto me arrependo de ter ido pra cama com a sua irmã, mas ela me seduziu e como homem, não consegui negar fogo.
(Com nojo ao se lembrar da traição, Maria das Graças olha para o outro lado)
BENÉ: Graça, por favor… Volta pra mim. Me aceita de volta.
(Com os olhos cheios de lágrimas, Bené e Maria das Graças se olham profundamente)
MARIA DAS GRAÇAS: Agora é tarde, Bené. Você fez a sua escolha no passado e agora as coisas mudaram. Você decidiu levar uma vida de luxúria que eu repudio grandemente. Falando nisso, agora eu sou da igreja e seria julgo desigual se eu voltasse pra você, assim como você está.
BENÉ: Eu posso mudar, Graça… Por você! Me dá uma chance?
(Maria das Graças pensa por uns segundos e solta a mão de Bené)
MARIA DAS GRAÇAS: Não, Bené… Minha resposta é “não”. Eu nunca mais teria confiança em você outra vez… E a nossa história não daria certo desse jeito. Eu te perdoo por tudo o que você fez no errado, mas não quero voltar pra você. Até mais!
(Maria das Graças dá um beijo demorado na testa de Bené, que fecha os olhos, triste pela resposta; Com os olhos marejados, Maria das Graças sai do quarto e Bené deixa uma lágrima rolar pelo seu ferido rosto)
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(Do lado de fora do quarto hospitalar, Maria das Graças encosta-se na gélida parede, lamentando-se)
MARIA DAS GRAÇAS: (triste) O que eu fiz, meu Deus… O que eu fiz? Eu queria sim voltar para o Bené, não é justo eu mentir para mim mesmo… Eu ainda o amo muito, independente de tudo o que ele me disse. (suspiro) Mas esse foi o certo… E agora que já o perdoei pela traição, tirei a mágoa do meu coração, a vida segue.
(Maria das Graças se recompõe, ajeita a sua bolsa no ombro e sai do hospital)
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“Morro da Paz”
(Felizes, Maria das Dores e Luís descem o morro e se deparam com Maria dos Prazeres, que está subindo)
MARIA DOS PRAZERES: (debochada) Das Dores! Luís! Vão pra onde tão felizes desse jeito? Vão receber algum dinheiro… Acertei? (risos)
MARIA DAS DORES: Melhor do que isso, Prazeres… Vamos trazer o Alex de volta.
LUÍS: Não é uma excelente notícia, tia?
(Maria dos Prazeres se espanta com a notícia)
MARIA DOS PRAZERES: O quê? O Alex já vai sair da cadeia? Mas já?
LUÍS: (desconfiado) Já sim, tia… Ele já cumpriu toda a pena. Por que, não gostou da notícia?
(Maria dos Prazeres detestou, mas tenta disfarçar)
MARIA DOS PRAZERES: Ah, claro que gostei da notícia, Luís… Que pergunta boba, menino!
(Maria das Dores e Luís riem)
MARIA DAS DORES: Ah, Prazeres, nós estamos preparando uma festinha pro Alex lá em casa. Se quiser aparecer…
MARIA DOS PRAZERES: Desculpa, mas não poderei comparecer. Agora me deem licença, pois eu tenho que fazer uma coisinha.
(Apressada, Maria dos Prazeres sobe o morro e Maria das Dores não entende)
MARIA DAS DORES: Tchau…
LUÍS: Mãe, a senhora percebeu? A tia Prazeres ficou tão estranha depois que eu falei que o Alex ia ser solto…
MARIA DAS DORES: A Prazeres sempre foi estranha, meu filho… Esse é o jeito dela. Agora, vamos! Vamos que a cada momento eu sinto mais saudade de ver o meu filho.
(Maria das Dores e Luís se animam e descem o morro; No caminho, eles avistam Carlos na birosca e adentram o local)
MARIA DAS DORES: Carlos, você não vir com a gente pra buscar o Alex não?
(Completamente bêbado, Carlos bebe mais um copo)
CARLOS: Eu não… Eu vou é beber mais uma pinga pra comemorar. Das Dores, e sai daqui… Sai mulher! Em birosca só entra mulher vagabunda.
(Os outros cacheiros concordam e assoviam para Maria das Dores, que fica indignada)
LUÍS: Vamos, mãe… Esse lugar não é pra gente. E que decepção, hein, pai!
(Carlos ignora Luís e volta a beber, com os seus amigos; Luís tira Maria das Dores da birosca e juntos, vão ao encontro de Alex)
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“Esconderijo de Fábio – Quarto”
(Raivoso, Fábio joga o ventilador no chão, estraçalhando-o completamente)
FÁBIO: Então quer dizer que o otário do Alex já vai ser solto? Mas que ódio!
(Maria dos Prazeres se levanta da cama e se aproxima de Fábio)
MARIA DOS PRAZERES: Vai sim, meu filho… E ainda vão fazer uma festinha pra ele. Que coisa mais cafona, anos 80. Brega, né?
FÁBIO: (malicioso) Festinha? Bom saber…
MARIA DOS PRAZERES: Está pensando em fazer alguma coisa, meu filho?
FÁBIO: (sarcástico) Vou nessa festinha receber o meu primo favorito… Vou mostrar pra ele quem é que manda o pedaço agora.
(Maliciosamente, Maria dos Prazeres sorri; Fábio pega o seu fuzil e sai; Esnobe, Maria dos Prazeres passa o dedo na televisão e enojada, esfrega-o no outro para tirar o pó)
MARIA DOS PRAZERES: Que cafofo mais sujo, cruzes! Me lembrei do meu tempo de empregada e com isso, a minha raiva pela família Smith… Ainda não esqueci a minha vingança contra eles, não mesmo! Comerão um a um na minha mão, custe o que custar!
(Falando sozinha, Maria dos Prazeres senta-se na cama e confabula contra os Smith, arquitetando a sua vingança contra eles)
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“The Plaza Hotel – Quarto de Afrodite”
(Deitada em sua cama, Afrodite olha a janela aberta que revela mais uma chuva de neve em plena tarde, deixando-a mais melancólica ainda; Lentamente, Ana entra, trazendo uma bandeja de café-da-manhã)
ANA: Good Morning, mammy… Trouxe pra senhora.
(Afrodite senta-se na cama e Ana lhe dá a bandeja; Ana senta-se na beirada da cama e fica olhando para Afrodite)
AFRODITE: Ah, minha filha, não precisava… Muito obrigada!
ANA: Percebi que a senhora não está bem… Mammy, por que aceitou ser noiva do Frederick se a senhora não o ama?
AFRODITE: Minha filha, não é questão de amar. O Frederick sempre gostou de mim, desde criança, e soube ser paciente…Não seria justo desapontá-lo tanto desse jeito, você não acha? Ele gosta de mim de verdade… E também, eu já estou ficando velha, preciso de um companheiro e…
ANA: A senhora não está venha, mammy… Ainda tem o rostinho de boneca.
(Lisonjeada pelo elogio, Afrodite sorri)
AFRODITE: Rostinho de boneca, mas as rugas já são visíveis… É triste uma mulher sozinha, você não sabe disso, pois ainda é jovem.
ANA: E eu só te pergunto uma coisa: É certo se casar sem amor?
(Aquela resposta pega Afrodite de surpresa e ela não sabe o que responder; A televisão que está esquecida, de repente chama a atenção de Afrodite, que se concentra no que vê; Ana repara um espontâneo sorriso surgindo no rosto de Afrodite e também olha para a televisão; Sorrindo, Afrodite aumenta o volume e presta bastante atenção no que vê no aparelho televisivo)
REPÓRTER: “Aqui, direto do Brasil, acompanhamos a liberdade do presidiário Alex Duarte de Souza, de 43 anos, preso em outubro de 1985, acusado de ser um perigoso bandido da Cidade do Rio de Janeiro e entre outras graves acusações…
(A repórter acaba de falar e a câmera foca em Alex, abraçado com Maria das Dores e Luís)
ALEX: “Eu sou inocente e vou provar isso para todo o mundo… Podem anotar! Após 28 anos preso injustamente, farei de tudo para que acreditem em mim e ter a minha dignidade outra vez.
(A câmera da um close no beijo que Maria das Dores e Luís dão nas bochechas de Alex, que sorri, extremamente feliz; Em seu quarto, Afrodite larga o controle remoto e sorri, emocionada)
AFRODITE: (encantada) Alex…
ANA: Então é ele, né, mammy? Mas como ele é very handsome! Mammy, está esperando o quê? Volte correndo para o Brasil!
AFRODITE: (tentada) Voltar? Para o Brasil? Você acha?
(Sorrindo, Ana confirma com a cabeça; Afrodite fica confusa, desvia o olhar, mas depois logo sorri, feliz ao ter notícia de Alex)
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“Algum tempo depois”
“Casa de Maria das Dores – Sala”
A apertada sala está enfeitada com coloridas bexigas, dando um ar alegre no local.
(Alex está atrás da mesa, que contém um grande bolo de chocolate com granulado, balas e docinhos; Em cada lado de Alex, está Maria das Dores e Maria das Dores; Na frente da mesa, Tico está segurando na cintura de Paula e abraçando a filha do casal, Jhenyfer, que tem apenas 9 anos de idade; Ao lado, Tina briga com sua filha, Alice, de 14 anos, quando essa pega um docinho da mesa e come; Ao lado está Tânia e seu filho Lucas, de braços dados; Na lateral da mesa, está Solange e Luís)
ALEX: Minha família, que são meus amigos, agradeço imensamente pela bela surpresa e também, agradeço todo o apoio que vocês me deram nesses 28 anos que padeci naquela prisão. Sem vocês, eu acho que não conseguiria. Vocês, mas do que tudo, foram o meu alicerce, meu porto-seguro, a minha força e o esteio que segurou a minha estrutura. Sem vocês, eu não seria a metade do que sou hoje… Portanto, só tenho a agradecê-los. Muito obrigado por tudo.
“Contente, Alex acaba o seu discurso e todos os aplaudem; Alex agradece; Maria das Dores fica emocionada pela liberdade do seu amado filho; Aplaudindo debochadamente, Fábio aparece e todos o encaram, exceto Paula que o olha de forma sensual; Ainda não sabendo a verdadeira face do primo, Alex sorri alegremente ao vê-lo”
(A imagem se congela num tom preto-e-branco)
Continua…

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